Tamanduá-mirim ganha cadeira de rodas produzida por médico-veterinário em Uberaba
A cadeira foi produzida com PVC e finalizada entre 24 a 48 horas de trabalho.
Carolina Oliveira
"Poder voltar a andar, viver e aproveitar a vida. Isso não tem preço na medicina veterinária." São palavras do médico-veterinário Gustavo Delfino Xavier, egresso do curso de Medicina Veterinária da Uniube, que produziu uma cadeira de rodas para um tamanduá-mirim, jovem e fêmea, que chegou ao Hospital Veterinário da Uniube (HVU) com suspeita de atropelamento. A inovação em atendimento de animais silvestres é marca registrada do HVU, que criou o primeiro bico de resina como prótese em gavião do país.
Tamires, como a tamanduá foi carinhosamente apelidada pela equipe, tem uma alteração na coluna e no cotovelo, o que resultou em uma paralisia nos membros e na cauda. Para que ela pudesse caminhar e ter de volta a liberdade de um animal de silvestre, a equipe do HVU teve a ideia de construir uma cadeirinha para dar conforto para Tatá. "Após um pedido da médica-veterinária Ananda e do professor Cláudio Yudi, por já ter confeccionado outras cadeiras, inclusive para um cão meu que era paralítico, eles me pediram apoio. Já fiz várias, em torno de 15 a 20 cadeiras para cães. Essa é a primeira vez que faço para um tamanduá-mirim. Foi um prazer, como eu já tenho conhecimento a partir das cadeiras feitas para cães, bastou adaptar a anatomia do paciente e estruturar a cadeira de rodas. É um dos maiores prêmios por ser médico-veterinário, pois conheço os dois lados da moeda, o do tutor triste com a situação do seu amigo de estimação e do médico-veterinário, pela preocupação e responsabilidade em tornar uma vida mais feliz e sem sofrimento", conta Gustavo, que também é professor da pós-graduação em Terapias Integrativas ao Uso de Células-Tronco no Tratamento de Doenças em Animais da Uniube.
A tamanduá veio de Goiás, de um centro de recuperação de animais silvestres. "A principal suspeita era de atropelamento e como ela estava com uma paralisia dos membros, suspeitava-se que ela tinha algum tipo de fratura mais séria, então esse centro de resgate entrou em contato com o HVU, por ter um pouco mais de experiência, principalmente na parte cirúrgica de tamanduás. Quando chegou, ainda bem debilitada, Tatá passou por avaliação clínica, fez exames de radiografia, e foi detectado que o problema dela na verdade era uma alteração na coluna e uma fratura no cotovelo", conta Henrique Imada, aluno do 8° período e responsável pelo setor de animais silvestres do HVU.
O tratamento para as fraturas foi, então, iniciado pelo Hospital, porém ela apresentava a paralisia dos membros e da cauda. "Quando a Tamires chegou, devido à paralisia, ela tinha retenção urinária causada pela paralisia dos nervos, e acabou desenvolvendo uma cistite e um processo grave de hemoparasitose, além de um processo grave de verminose, que culminou na queda da imunidade e causou um processo grave de anemia. Tivemos que retirar o sangue dela às pressas, fazendo uma xenotransfusão, retirando o sangue de um tamanduá bandeira e transfundir em um tamanduá-mirim, e isso nunca foi relatado em literatura, e ela sobreviveu. Nesse dia, ela ficou hipotensa e hipoglicêmica, e tivemos que monitorar ela em esquema de UTI em plantão durante a noite toda", detalha a professora de anestesiologia e intensivismo do HVU, Ananda Neves Teodoro.
Quanto à recuperação de Tamires, depois de um longo processo no qual passou, está se recuperando com a ajuda de acupuntura e fisioterapia, mas ainda tem um longo caminho pela frente. A tamanduá passará por mais exames, como de Raio-x, mielografia (para avaliação da medula espinhal); além de novo procedimento cirúrgico no úmero (osso do braço). "Um adendo para o quadro dela seria a possibilidade de estudar o caso de aplicação de células-tronco na tamanduá-mirim, além de fisioterapias para complementar o tratamento e aumentar as chances de recuperação e quem sabe, voltar a andar sem a ajuda de aparelhos", finaliza Gustavo.
Outras inovações do HVU
Em abril de 2019, a criatividade do gerente clínico do HVU e médico-veterinário, Cláudio Yudi foi destaque na mídia. A tartaruga, batizada de Michelangelo, é conhecida como cágado-de-barbicha. Ela foi recolhida pela Polícia Militar Ambiental e levada ao Hospital para receber cuidados. Inicialmente, Cláudio Yudi faria a prótese para o cágado com resina plástica. Mas, depois, surgiu a ideia de fazer o teste com as pecinhas de Lego, que foram doadas por um dos alunos de Medicina Veterinária.
Já em julho de 2019, o primeiro bico de resina do Brasil foi utilizado como prótese em Gavião do Cerrado. José, como como foi batizada a ave carcará no HVU, foi o primeiro da espécie no Brasil a receber uma prótese de bico feita de resina plástica. O animal é um gavião típico do cerrado e chegou ao hospital sem a parte superior do bico. A prótese foi feita pelo gerente clínico e médico veterinário, Cláudio Yudi, acompanhado de outros especialistas e alunos do curso de Medicina Veterinária da Uniube.
E o vídeo da Tatá já está bombando nas nossas redes. Clique e confira.