Junho violeta: mês de prevenção de doenças oculares em pets | Acontece na Uniube

Junho violeta: mês de prevenção de doenças oculares em pets

03 de junho de 24
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O Junho Violeta Pet é um mês dedicado à prevenção e conscientização sobre doenças oculares em animais. Durante o mês, há um foco especial na importância de consultas oftalmológicas regulares para detectar e tratar precocemente problemas oculares que podem afetar a visão e a qualidade de vida dos pets.


O médico-veterinário, mestre em Cirurgia Veterinária, doutor em Medicina Veterinária e coordenador do Programa de Aprimoramento Profissional em Medicina Veterinária da Uniube, Renato Linhares Sampaio, compartilha informações sobre doenças oculares, métodos de diagnóstico e a importância do tratamento adequado.


O que é o junho violeta e qual a sua importância na prevenção de doenças oculares em pets?


Renato Linhares: Junho Violeta simboliza o mês de prevenção das doenças oculares nos animais, com o objetivo de sensibilizar os tutores sobre a necessidade de dar atenção à saúde dos olhos por meio de consultas regulares ao médico-veterinário oftalmologista. Os animais podem desenvolver diversas doenças oculares ao longo da vida. Algumas são sazonais, outras progressivas, e existem ainda as doenças que são mais comuns em algumas raças ou biotipos de cães e gatos.


Quais são as doenças oculares mais comuns que afetam cães e gatos?


Renato Linhares: Os cães e gatos podem manifestar diversas doenças oculares, sendo as mais comuns: Úlceras de córnea: Caracterizadas pela lesão do tecido corneano, que representa a porção transparente anterior do olho, sendo a região do bulbo ocular mais exposta ao ambiente e, portanto, a mais propensa a sofrer traumas de diversas naturezas. Alterações anatômicas das pálpebras, como o entrópio, ou o crescimento de cílios em locais diferentes do natural, também podem lesar a córnea. As úlceras causam muita dor, levando os pets a manterem os olhos fechados, piscarem frequentemente e tentarem coçar o local. Além disso, a córnea se torna opaca, os olhos ficam vermelhos e produzem muita lágrima, fazendo com que os pelos ao redor do olho afetado fiquem permanentemente molhados. Um alerta importante em relação à úlcera de córnea é que a doença é progressiva, aumentando rapidamente e podendo evoluir para lesões profundas ou mesmo perfuração da córnea, com risco de perda visual. Portanto, diante da suspeita de uma lesão da córnea, o atendimento pelo veterinário especialista deve ser feito o mais breve possível. Ceratoconjuntivite seca: Olhos vermelhos e com secreção abundante podem estar sofrendo de um distúrbio na sua lubrificação, também conhecido como olho seco. Esta doença tem se destacado como uma das mais prevalentes nos consultórios de oftalmologia veterinária. Através de exames específicos, o oftalmologista veterinário irá verificar se o olho seco está sendo provocado por uma baixa produção da parte aquosa da lágrima, que caracteriza o olho seco quantitativo, ou se o pet tem a deficiência de outros componentes lacrimais que possuem a função de manter a lágrima estável sobre a superfície ocular, caracterizando o olho seco qualitativo. O diagnóstico é feito com base nos resultados do teste lacrimal de Schirmer, que avalia a quantidade total de lágrima que o olho produz, e na aferição do tempo de ruptura do filme lacrimal, que avalia a qualidade do filme lacrimal. Ambos os testes são essenciais na avaliação da saúde dos olhos de cães e gatos, visto que o olho seco pode começar de forma silenciosa. Catarata: A opacidade do cristalino, que é a lente localizada no interior do olho, é uma das causas de perda visual gradual nos animais. É uma doença mais prevalente em animais idosos e normalmente afeta os dois olhos. O tratamento da catarata é exclusivamente cirúrgico, sendo realizado por meio da facoemulsificação, em que o cristalino opaco é quebrado em pequenos fragmentos e aspirado na sua totalidade. Após a remoção do cristalino opaco, é possível colocar uma lente em seu lugar, permitindo uma visão normal para os animais operados. Glaucoma: O glaucoma é um distúrbio provocado pelo desequilíbrio entre a produção e a drenagem do humor aquoso. A origem do problema normalmente está em uma redução na saída desse líquido de dentro do olho, favorecendo seu acúmulo e a elevação da pressão intraocular. A avaliação oftalmológica periódica inclui a análise das estruturas envolvidas na drenagem e a aferição da pressão intraocular, sendo uma forma de identificar precocemente os riscos inerentes à manifestação do glaucoma.


Existem raças de cães e gatos que são mais propensas a desenvolver problemas oculares?


Renato Linhares: Os cães braquicefálicos, representados por raças como Shih Tzu, Lhasa Apso, Maltês, Pequinês, Pug, Buldogue Francês e Inglês, estão entre os preferidos dos tutores em todo o país. Essas raças cativam pela docilidade, inteligência e companheirismo, sendo ótimos cães de companhia para pessoas de qualquer idade. Eles se caracterizam pelo focinho achatado, grande abertura palpebral e uma prega nasal localizada entre a margem palpebral medial e a narina, que pode deslocar a margem palpebral medial em direção à superfície ocular. Além disso, algumas raças apresentam crescimento de cílios e pelos em regiões próximas à superfície ocular, favorecendo o contato destes com a córnea e predispondo à irritação local. Devido a essas características anatômicas, esses cães frequentemente apresentam movimentos palpebrais incompletos, comprometendo a lubrificação adequada da superfície ocular, o que aumenta a incidência de inflamações oculares e úlceras de córnea. A identificação precoce dessas alterações pelo oftalmologista veterinário permite o planejamento de ações para controlar a maioria desses problemas. Gatos de focinho curto, como o Persa, também são predispostos a inflamações na superfície ocular e requerem cuidados especiais, assim como os cães braquicefálicos.


Como é feito o diagnóstico de doenças oculares em animais de estimação e quais são os principais sintomas que os tutores devem observar para identificar possíveis problemas em seus pets?


Renato Linhares: A oftalmologia veterinária está bastante avançada e dispõe de equipamentos e dispositivos de diagnóstico que permitem identificar diversos problemas que acometem os olhos dos animais. Durante as consultas oftalmológicas, são avaliadas as estruturas oculares por meio de instrumentos que aumentam as imagens dessas estruturas, permitindo a identificação de alterações muitas vezes imperceptíveis. A avaliação da qualidade e quantidade da produção lacrimal, a aferição da pressão intraocular, a anotação dos reflexos oculares e os testes de visão estão entre os exames realizados durante a consulta oftalmológica. Além dos exames específicos do olho e seus anexos, como as pálpebras e a conjuntiva, exames laboratoriais complementares também são importantes para elucidar o diagnóstico de muitas doenças oculares, especialmente as de caráter inflamatório. Algumas dessas doenças podem estar relacionadas a doenças sistêmicas, necessitando da colaboração de médicos veterinários de outras especialidades e exigindo exames de sangue, citologias, exames de imagem e biópsias para uma melhor acurácia do diagnóstico de doenças locais ou sistêmicas que se manifestam nos olhos. Entre os sinais clínicos mais relatados pelos tutores, destaca-se o olho vermelho. Pacientes com esse sinal clínico devem ser minuciosamente examinados, pois ele pode estar relacionado a doenças da superfície ocular e intraoculares. O exame oftalmológico completo, realizado pelo especialista, e os exames complementares são imprescindíveis para diferenciar se o olho vermelho está relacionado a algum distúrbio da produção lacrimal, úlceras de córnea, irritações oculares provocadas por doenças dos cílios ou das pálpebras, glaucoma ou inflamações intraoculares, como as uveítes.


Quais são as principais medidas preventivas que os tutores podem tomar para proteger a saúde ocular de seus pets?


Renato Linhares:A melhor medida preventiva é a atenção dos tutores às alterações oculares que podem estar relacionadas a alguma doença. Olhos vermelhos, secreção ocular amarelada ou esverdeada, lacrimejamento excessivo e olhos fechados ou com aumento do reflexo de piscar podem indicar inflamação ocular. Animais com os olhos abertos e pupilas dilatadas, associados à diminuição da visão, que pode se manifestar por dificuldade em encontrar brinquedos, alimentos ou em se deslocar no ambiente, também são indicativos de problemas. Nesses casos, a avaliação do especialista é imprescindível para que o problema seja diagnosticado e tratado de forma rápida e eficaz. É importante ressaltar que algumas doenças evoluem rapidamente e necessitam de cuidados imediatos. Uma dica importante é proteger os olhos do pet antes mesmo de levá-lo ao especialista, para evitar que ele coce ou toque a região ocular em qualquer objeto que possa agravar a inflamação ou causar lesões. Os colares elizabetanos, aplicados na região cervical, podem ser utilizados para essa finalidade e são facilmente encontrados em lojas de produtos para pets. A utilização de colírios, géis ou pomadas deve ser orientada pelo médico veterinário. Não se deve fazer uso de medicamentos sem essa orientação, pois alguns princípios ativos indicados para certas doenças podem ser contraindicados para outras. Um exemplo são os corticoides, que podem ser utilizados para algumas inflamações, mas não devem ser usados nas úlceras de córnea, embora ambas se manifestem com o sinal do olho vermelho.


A alimentação e os cuidados gerais podem influenciar a saúde ocular dos pets?


Renato Linhares: A alimentação influencia algumas doenças oculares, e a principal dica é evitar que os pets ganhem peso excessivo. A obesidade pode levar ao desenvolvimento de doenças endócrinas, como o diabetes mellitus, que predispõe ao desenvolvimento de catarata diabética. Isso exige um planejamento diferente do tratamento da catarata senil, além do controle da glicemia e de outras alterações sistêmicas causadas pela doença endócrina. É importante optar por uma alimentação de boa qualidade, adequada ao perfil do animal. Hoje, há alimentos na forma de ração para raças específicas e para a maioria dos biotipos de cães e gatos, formulados para suprir todas as necessidades dos animais. Se o tutor optar por outras formas de alimentação, é recomendável que seja formulada por um médico veterinário nutricionista para garantir os níveis mínimos de nutrientes para o pet. Nunca permita que gatos comam ração para cães, pois os tipos e a quantidade de nutrientes são diferentes, podendo causar carências nutricionais que afetam inclusive a visão.


Há algum mito ou equívoco comum sobre a saúde ocular dos pets que você gostaria de esclarecer?


Renato Linhares: O principal mito está relacionado à qualidade da visão dos pets, particularmente à visão de cores. É importante destacar que o estudo da visão é complexo e ainda existem muitas dúvidas em relação à real capacidade visual dos animais. No entanto, o avanço das pesquisas na área da neuro-oftalmologia tem nos fornecido algumas respostas. Sabe-se que cães e gatos enxergam cores, mas de maneira diferente dos humanos. Nós enxergamos um espectro maior de cores do que nossos amigos pets; ou seja, vemos o mundo de forma mais colorida. Mas isso não indica que eles tenham deficiência visual, pois, ao longo da evolução, se adaptaram a essa condição. Se, por um lado, eles não identificam todas as cores, por outro, possuem maior habilidade de enxergar com pouca luminosidade, ou seja, têm uma boa visão noturna, enquanto os humanos apresentam maior dificuldade em ambientes com pouca luz. Tudo isso está relacionado com questões adaptativas desenvolvidas ao longo dos anos, em função dos hábitos de cada espécie animal. Outra característica importante é que os pets utilizam, em combinação com a visão, outros sentidos como o olfato e a audição para interagir com o ambiente de forma segura e confortável. Essa combinação dos sentidos é muito favorável para a qualidade de vida dos nossos amigos cães e gatos.


Que tipo de acompanhamento regular é recomendado para garantir a saúde ocular dos pets?


Renato Linhares: Embora muitas doenças oculares possam se manifestar em qualquer raça de cão ou gato, algumas raças são predispostas a determinados problemas relacionados aos olhos. Isso não deve limitar a escolha do pet pelo tutor, pois essa escolha envolve muitas outras questões. No entanto, deve reforçar a necessidade de procurar um oftalmologista veterinário no primeiro ano de vida para uma avaliação e dicas de como manter a saúde ocular de acordo com o perfil de cada paciente. A partir dessa primeira consulta, será decidida a frequência necessária de atendimentos, considerando as características anatômicas do pet, o perfil da raça e os achados clínicos durante a consulta. É importante ressaltar que os olhos são bastante sensíveis e a agilidade no diagnóstico do problema é um dos segredos para o sucesso do tratamento de qualquer doença que afete a visão.


Quais são os avanços recentes na medicina veterinária que têm melhorado o diagnóstico e o tratamento das doenças oculares em pets?


Renato Linhares: As pesquisas na área da oftalmologia veterinária têm contribuído significativamente para a melhor compreensão dos mecanismos das doenças oculares e auxiliado no desenvolvimento de novos tratamentos para o controle de muitas das doenças diagnosticadas nos olhos dos animais. Outro avanço importante está relacionado à tecnologia. Há alguns anos, muitos equipamentos utilizados no diagnóstico das doenças oculares dos pets eram adaptados da linha humana e apresentavam algumas limitações devido à anatomia e ao comportamento dos animais. Enquanto os humanos conseguem permanecer estáticos durante o exame oftalmológico, os animais tendem a se movimentar por curiosidade ou medo. Sem dúvida, o desenvolvimento de novas gerações de equipamentos portáteis, desenvolvidos especificamente para a medicina veterinária, tem contribuído muito para a precisão no diagnóstico das doenças oculares dos pets e para o avanço no conhecimento da oftalmologia veterinária. Também podemos citar a maior disponibilidade de medicamentos específicos para as doenças oculares dos animais, com apresentações que tornam os tratamentos mais simples e eficientes.


Carolina Oliveira | Universidade do Agro