Dezembro Verde: campanha de conscientização contra o abandono de animais e pela posse responsável | Acontece na Uniube

Dezembro Verde: campanha de conscientização contra o abandono de animais e pela posse responsável

02 de dezembro de 24
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O Dezembro Verde Pet é uma campanha de conscientização que busca combater o abandono de animais e promover a posse responsável. A iniciativa surgiu para alertar sobre o aumento significativo de casos de abandono durante o final de ano, período em que muitas famílias viajam e deixam de cuidar de seus pets. Além disso, a campanha também reforça a importância de adotar práticas éticas e responsáveis ao adquirir ou cuidar de um animal de estimação.


O médico-veterinário, mestre em Ciências Veterinárias, professor da Universidade do Agro e responsável pelo setor de Animais Silvestres do Hospital Veterinário da Uniube (HVU), Cláudio Yudi Kanayama, conta sobre a campanha e aponta os dados do Brasil.


O que é a campanha Dezembro Verde Pet e qual o objetivo?


Cláudio Yudi: A campanha Dezembro Verde foi criada no estado do Ceará em 2015 pela União de Ativistas Protetores, e o movimento surgiu como uma resposta ao aumento alarmante de casos de abandono e maus-tratos, especialmente durante o período de fim de ano, quando muitas pessoas negligenciam seus compromissos com os animais de estimação. A iniciativa começou como uma ação local, mas rapidamente ganhou força, sendo abraçada por diversas cidades de todo o Brasil, buscando educar a sociedade sobre a responsabilidade compartilhada no cuidado e proteção dos animais, além de reforçar que o abandono é crime previsto em lei. Por meio de ações educativas, eventos e campanhas de divulgação, a iniciativa pretende mobilizar a população para evitar o abandono, promover a adoção responsável e denunciar maus-tratos, contribuindo para uma convivência mais ética e justa entre humanos e animais. A campanha não apenas conscientiza sobre o problema do abandono e dos maus-tratos contra animais, mas também alerta sobre o aumento significativo desses casos entre os meses de dezembro e fevereiro. Esse período coincide com as férias de fim de ano e viagens, que frequentemente levam tutores irresponsáveis a abandonar seus animais por não conseguirem incluí-los nos planos ou encontrar alternativas de cuidado adequado.


Quais são os principais sinais de que um animal de estimação pode estar sofrendo abandono ou maus-tratos?


Cláudio Yudi: Os principais sinais de que um animal pode estar sofrendo abandono ou maus-tratos incluem uma série de condições que comprometem o bem-estar físico e emocional do animal. É comum que essas situações sejam percebidas por vizinhos ou pessoas que frequentam o local onde o animal está sendo mantido. No Brasil, os sinais mais comuns incluem:



  • Ausência de cuidados básicos: falta de água limpa, alimento adequado ou abrigo apropriado para proteger o animal das condições climáticas extremas;

  • Agressões físicas visíveis: presença de feridas, hematomas, ossos quebrados ou outros sinais de violência;

  • Animais acorrentados ou confinados por longos períodos: situações em que o animal permanece preso, sem liberdade para se movimentar ou expressar comportamentos naturais;

  • Desnutrição e magreza extrema: animais visivelmente magros, com costelas e ossos aparentes, o que indica falta de alimentação regular;

  • Doenças ou feridas não tratadas: lesões abertas, infecções, falta de tratamento veterinário ou sinais de sofrimento prolongado;

  • Abandono visível: animais deixados em ruas, terrenos baldios ou propriedades desocupadas, muitas vezes com sinais de desorientação ou medo.


A observação de qualquer um desses sinais deve ser tratada como uma possível situação de abandono ou maus-tratos. É fundamental que a população denuncie essas práticas às autoridades competentes, como delegacias especializadas em crimes ambientais, polícias ambientais ou secretarias de meio ambiente, para que ações sejam tomadas. A denúncia é um passo essencial para proteger os animais e garantir que os responsáveis sejam penalizados de acordo com a lei (LEI Nº 14.064, DE 29 DE SETEMBRO DE 2020).


Quais as consequências físicas e emocionais do abandono para os pets?


Cláudio Yudi: Fisicamente, os animais abandonados enfrentam uma série de riscos, como fome, desnutrição, desidratação e exposição às intempéries climáticas, o que compromete seriamente seu sistema imunológico, aumentando o risco de infecções por micro-organismos. Além disso, estão vulneráveis a diversas doenças, como a raiva, que pode ser transmitida em interações com outros animais infectados, além de outras zoonoses que colocam em risco não apenas a vida dos pets, mas também a saúde pública. Ectoparasitas, como carrapatos, pulgas e piolhos, são extremamente comuns entre animais abandonados, agravando quadros de dermatites, anemias e infecções secundárias. Sem acesso a cuidados veterinários, essas condições muitas vezes se tornam debilitantes. Também estão expostos a acidentes graves, como atropelamentos e ataques de outros animais, que podem causar lesões fatais ou deixar sequelas permanentes. Animais abandonados sofrem com a perda do vínculo social e a insegurança constante, o que pode resultar em estados de ansiedade, depressão e comportamentos como apatia, agressividade ou medo excessivo. O abandono rompe laços emocionais, especialmente em espécies sociais como cães e gatos, levando a traumas duradouros que dificultam a reintegração em um novo lar. Além disso, a competição por recursos nas ruas, como comida e abrigo, frequentemente gera conflitos entre os animais, aumentando o risco de ferimentos. A reprodução descontrolada agrava a superpopulação e o sofrimento desses animais, tornando o abandono não apenas uma questão individual, mas um problema social e de saúde pública.


Como os tutores podem contribuir para prevenir o abandono de animais?


Cláudio Yudi: Os tutores podem contribuir para prevenir o abandono de animais adotando práticas responsáveis. Além de denunciar casos de maus-tratos e abandono às autoridades competentes, como a Polícia Ambiental, secretarias municipais de meio ambiente ou organizações de proteção animal, existem outras ações importantes que podem ser realizadas:



  • Planejamento responsável: antes de adquirir ou adotar um animal, é essencial avaliar o compromisso a longo prazo, considerando as necessidades do animal, como alimentação, cuidados veterinários, recursos financeiros e espaço adequado;

  • Esterilização (castração): a castração é uma medida eficaz para evitar crias indesejadas, que muitas vezes acabam sendo abandonadas. É um ato de responsabilidade que ajuda a controlar a superpopulação animal;

  • Educação contínua: compartilhar informações sobre a importância do bem-estar animal e o impacto do abandono com amigos, familiares e na comunidade pode ajudar a disseminar uma cultura de cuidado e respeito;

  • Planejamento para viagens: encontrar alternativas seguras para cuidar do animal durante períodos de férias ou ausências, como contratar cuidadores, utilizar hotéis para pets ou buscar a ajuda de amigos e familiares;

  • Adotar: priorizar a adoção de animais resgatados em abrigos ou ONGs, promovendo a reintegração de animais abandonados a lares responsáveis.


Quais políticas públicas e iniciativas são mais eficazes no combate ao abandono e à promoção da adoção responsável?


Cláudio Yudi: No Brasil, as políticas públicas e iniciativas mais eficazes no combate ao abandono e na promoção da adoção responsável incluem a combinação de programas de castração de cães e gatos e ações voltadas para a educação sobre guarda responsável. A castração de cães e gatos é uma estratégia indispensável, pois ajuda a controlar a superpopulação e previne crias indesejadas, que frequentemente acabam sendo abandonadas. Muitos dos animais que vivem nas ruas tiveram tutores no passado, mas foram deixados à própria sorte devido à falta de planejamento ou responsabilidade. A implementação de programas públicos de castração, especialmente gratuitos ou de baixo custo, permite o acesso a essa medida preventiva em comunidades de baixa renda, onde o problema do abandono é mais acentuado.


Como a sociedade pode se engajar na causa do Dezembro Verde e ajudar na conscientização sobre a posse responsável?


Cláudio Yudi: A sociedade pode se engajar na causa do Dezembro Verde promovendo ações que ampliem os conhecimentos sobre a posse responsável e combatam o abandono de animais. Além de organizar eventos como passeios com cães (Cãominhadas), palestras e fóruns, é fundamental estabelecer parcerias com instituições de ensino. Há projetos de extensão universitária, como o Projeto Fiel Camarada, realizado pelo curso de Medicina Veterinária da Universidade do Agro. O projeto leva informações sobre cuidados com animais e guarda responsável para jovens de escolas públicas na região do Triângulo Mineiro, contribuindo para a formação de uma geração mais consciente e comprometida com o bem-estar animal.


Quais são os dados do Brasil sobre abandono?


Cláudio Yudi: O relatório global liderado pela MARS, em parceria com especialistas e organizações de bem-estar animal, tem como objetivo mapear os índices de abandono de cães e gatos em diferentes países, incluindo o Brasil. Essa iniciativa busca fornecer informações relevantes para embasar políticas públicas e promover ações que reduzam o número de animais abandonados, garantindo os cuidados necessários. O estudo aborda três áreas principais: prevenir ninhadas indesejadas, assegurar cuidados adequados e manter os animais em lares estáveis.


Principais Dados do Brasil:



  • População total de cães e gatos: 121,3 milhões, sendo 82,1 milhões de cães e 39,2 milhões de gatos;

  • Número de animais abandonados: aproximadamente 30,2 milhões (25% do total de cães e gatos; no país). Apesar de o número ser alto, está abaixo da média global entre os 20 países analisados;

  • Animais em abrigos: cerca de 185 mil (7.400 gatos e 177.600 cães), o que demonstra um percentual reduzido desses animais vivendo sob proteção institucional;

  • Desafios na Coleta e Validação dos Dados.


Cláudio Yudi: Embora o estudo ofereça números impactantes, a metodologia utilizada para coletar essas informações apresenta limitações. Os dados para o Brasil têm como fontes o Instituto PET Brasil, a World Animal Protection e a Humane Canada 2020. No entanto, nenhuma dessas organizações apresenta metodologias claras ou detalhadas sobre como os números foram obtidos, o que compromete a confiabilidade e dificulta a elaboração de estratégias eficazes e direcionadas para o manejo populacional. A ausência de estatísticas robustas e cientificamente embasadas no Brasil reflete um desafio significativo na luta contra o abandono. Dados precisos são fundamentais para o planejamento de programas voltados ao controle populacional, como campanhas de castração, e para a criação de políticas públicas mais eficazes. Além disso, a falta de informações confiáveis limita o entendimento da real magnitude do problema, dificultando a mobilização de recursos e o engajamento da sociedade na solução desse grave problema. 


Portanto, enquanto o abandono de animais continua sendo um dos principais problemas na dinâmica populacional de cães e gatos no Brasil, é essencial investir em pesquisas mais robustas, com metodologia científica clara e acessível. Isso permitirá compreender melhor a realidade do país e desenvolver intervenções mais efetivas para reduzir o número de animais abandonados e promover o bem-estar animal de forma sustentável.


Carolina Oliveira | Universidade do Agro