Conheça a história do cortador de cana que se tornou Mestre em Educação

Wilson Benjamin só tinha a 5ª série, aos 32 anos, quando percebeu que a Educação era o caminho que mudaria a sua trajetória de vida.

Das lavouras de café e plantações de cana-de-açúcar às salas de aula e laboratórios de química. Wilson Benjamin nasceu em uma família de dez irmãos na zona rural de Matutina (MG). Desde criança, foi inserido na rotina do campo, e com o compromisso de ajudar a família, focou no trabalho rural e abandonou os estudos, ainda na 5ª série. A vontade de voltar à escola veio somente aos 32 anos, quando sentiu a necessidade de concluir o ensino fundamental para ter oportunidades melhores na vida. O que Wilson não esperava é que esse seria a porta de entrada de uma trajetória de muita conquista.

Estudar é um objetivo de muitas pessoas, mas, infelizmente, nem todos têm as mesmas condições para cumprir com essa meta. Com Wilson foi exatamente assim. Hoje ele é graduado em Química e Pedagogia, pós-graduado em diversas especializações e Mestre em Educação. Mas a realidade parecia distante para o cortador de cana que passava diariamente em frente à Uniube no "pau-de-arara" a caminho do trabalho.

"Eu passava na porta da Uniube em um 'caminhão de pau-de-arara', esses ônibus rurais que levam os trabalhadores. Eu via as luzes da Universidade a achava que era impossível eu entrar ali um dia. Eu não imaginava que um dia poderia estudar lá, muito menos trabalhar. Parei de estudar na 5ª série. Mas teve um dia, numa queima de cana, quando caiu uma chuva, eu pensei: 'eu tenho que voltar a estudar, porque eu preciso arrumar um serviço na cidade e deixar essa vida'", relembra.

O sonho do cortador de cana não era se graduar em Química. Muito menos ser professor. Aos 32 anos ele só queria terminar o ensino fundamental para ser vendedor em uma loja de móveis, no centro do cidade, em Uberaba. Nenhum um sonho além desse. "Eu falei: 'vou terminar o ensino fundamental que eu não tenho'. Mas a realidade não era essa. As lojas só contratavam quem tinha Ensino Médio. E então eu percebi que precisava de mais", conta.

Wilson voltou a estudar pelo programa de Educação de Jovens e Adultos (EJA), dividindo seu tempo entre o trabalho árduo durante o dia e as aulas à noite. Na escola, encontrou uma inspiração, seu professor de Química, que o encorajou a prestar o vestibular para a Licenciatura na disciplina em que ele 'mandava bem'.

"Eu falava para o professor que entrar numa Universidade estava fora do meu orçamento. Mas não. Quando ele me levou até a Uniube eu vi que era possível. Esse professor me incentivou muito, estudava comigo para o vestibular. Passei no vestibular, em 16º lugar, me lembro até hoje, iniciei o curso e não parei mais", compartilha.

Não foi um período fácil, pois Wilson ainda conciliava os trabalhos na roça com o curso superior. "Eu me recordo que tinham duas amigas minhas que sentavam próximo a mim, na sala de aula, e que às vezes elas falavam: 'Wilson, vai no banheiro e dá uma lavadinha no ouvido, porque está sujo de carvão'. Eu não tinha tempo direito pra tomar banho quando eu chegava do trabalho. E eu não tinha vergonha de onde eu vinha. Minha unha era suja de carvão, mas eu não tinha vergonha. Os professores sabiam e viam a luta", emocionado, relembra Wilson.

Conclui a Licenciatura em Química aos 39 anos e continuou a jornada acadêmica. Aos 47 anos, concluiu o mestrado em Educação. Posteriormente, aos 52 anos, decidiu cursar Pedagogia, abrindo portas para novas oportunidades e consolidando sua paixão pela docência.

Hoje, com 55 anos, Wilson Benjamin é um exemplo de que as dificuldades podem ser transformadas em força e motivação. Ele se tornou professor e gestor do curso de Química, na Uniube, onde permaneceu no cargo por 11 anos. Hoje, ele dá aula na Educação a Distância (EAD) da Uniube, com o objetivo de compartilhar todo o conhecimento que adquiriu com inúmeros alunos, inspirando-os a nunca desistirem de seus sonhos. Ele também é coordenador pedagógico em uma escola municipal, em Uberaba.

Como ele mesmo afirma: "As dificuldades vão aparecer. O que a gente não pode é deixar que essas dificuldades impeçam nossos sonhos. Faça das dificuldades uma forma de buscar força e tenha certeza que a solução para as dificuldades é a educação, é algo que ninguém te tira", finaliza.

O depoimento dado pelo professor faz parte da campanha "Sem Julgamentos. Só Educação", lançada pela Uniube, que reúne histórias de superação contadas por alunos, ex-alunos e professores da instituição. O vídeo geral da campanha da Uniube, assim como os depoimentos dos personagens, pode ser conferido no YouTube oficial da Uniube e nas redes sociais.

 Barbara Lemes