Veterinário do interior de Minas usa peças de brinquedo como prótese para tartaruga
Peças de brinquedos e resina são agora a nova maneira de locomoção de uma tartaruga de água doce em Uberaba (MG). A criatividade e inovação vieram do gerente clínico do Hospital Veterinário da cidade, Cláudio Yudi, e dos alunos do curso de Medicina Veterinária da Universidade de Uberaba (Uniube).
A tartaruga, batizada de Michelangelo, é conhecida como cágado-de-barbicha. Ela foi recolhida pela Polícia Militar Ambiental e levada ao Hospital para receber cuidados. “O animal não apresentava as duas patas traseiras, como não sabemos do caso, a possibilidade maior é que o animal tenha nascido sem elas. Então nós ficamos com uma grande dificuldade, do que iria substituir a falta dessas patas”, conta o médico veterinário e professor universitário.
A solução sugerida foi bem simples, usar peças de brinquedos resistentes para adaptar uma melhor forma de locomoção para o Michelangelo. “Não substituiria as patas, mas serviria de apoio para que esse animal pudesse andar melhor e resolveu. Nós adaptamos oito peças de brinquedo que foram coladas na carapaça dele e que foi um sucesso, hoje o animal anda muito bem, ele consegue movimentar com essas adaptações de rodinha”, continua.
Para a aplicação das próteses foi utilizada uma resina, mas sem prejuízos à saúde animal. “Nós utilizamos uma cola especial, uma cola até utilizada por dentistas. É uma cola que adapta materiais orgânicos em tecidos vivos. Uma adaptação muito comum, inclusive, que nós utilizamos tanto em humanos como animais e tem dado um resultado muito bom”, pontua.
De acordo com o aluno do primeiro período de Medicina Veterinária da Uniube, Henrique Mendonça Imada, o animal chegou no hospital em um aquário pequeno, com água suja. “E isso era muito triste por ser um animal "especial" (que não tinha as patas traseiras) ”. A aplicação da prótese foi, segundo ele, uma ótima experiência. “É uma experiência incrível poder dar uma vida mais digna e natural para ele depois de tanto sofrimento e, também, como aluno ter a oportunidade de aprender muito de forma prática. Além de saber lidar com situações diferentes que podem aparecer no futuro, e utilizar de muita criatividade, trabalho em grupo e esforço com a profissão futuramente”, compartilha.
A graduanda Paola Stephanie Queiroz Amaral, do 3º período do curso, também enaltece a importância da participação de alunos em projetos como esse. “Eu adorei fazer parte do projeto de prótese, ainda mais para um cágado-de- barbicha que é um animal silvestre que eu tive o prazer de batizá-lo com o nome de Michelangelo. Uma das partes deste projeto que me deixou mais feliz foi poder devolver ao Michelangelo a liberdade dele se locomover sem que houvesse ferimentos na sua carapaça e de viver a sua vida normalmente como se tivesse as quatro patas”, conta.
O animal respondeu muito bem à adaptação. “As tartarugas, em especial, conseguem se adaptar muito bem a próteses, nós já temos experiências com outros animais. Entretanto, é um animal que não vai poder voltar à natureza, porque não tem as duas patas, o que vai dificultar a hora de nadar e na mudança de ambiente, de água para terra, vice-versa. Então ele ficará conosco para estudos e novas adaptações no hospital”, finaliza.
Criatividade animal
A tartaruga Michelangelo não é a primeira a receber uma prótese criativa pelo Hospital Veterinário de Uberaba (HVU). Foram, ao todo, oito animais atendidos, dentre: aves carcarás, jabutis, cágado, lobo guará e, até mesmo, coruja. “Nós sempre tentamos trazer, ao mesmo tempo, tecnologias novas e simplicidade. Além disso, o trabalho em equipe, em que os alunos também participam ativamente e podem dar opinião sobre as atuações no Hospital. Hoje não é somente o professor que ensina, os alunos também dessa nova geração têm muito a nos ensinar”