De aluno a docente: professor relembra desafios que o levaram até a sala de aula
"Eu tinha uma certeza quando eu vim pra Uberaba: eu precisava estudar, eu precisava ser alguém na vida", diz professor de Direito, Widson Rogério Silva Dantas. Foram anos de muita dificuldade, Widson mudou para Uberaba para cursar Direito na Uniube, em 2001. Com restrição financeira e longe da família, precisou repensar os objetivos que tinha para alcançar o tão sonhado diploma. Atualmente, Widson completou 16 anos de docência na Universidade que se formou e inspira alunos com a trajetória que viveu.
Nascido há quase 700km de distância de Uberaba, em Montes Claros (MG), o professor Widson relembra os desafios que enfrentou durante graduação na Uniube. "Minha família é muito humilde, não tinha condições nenhuma de me manter em Uberaba. Então, eu vim para cá com uma certeza: a de que eu precisava trabalhar e dar conta de concluir o curso, ser alguém na vida. Somente os estudos iriam me dar essa condição de melhorar a minha vida e a da minha família, até de puxar uma fila, pois eu sou o mais velho de duas irmãs, mais velho dos netos e, até então, ninguém da minha família tinha concluído um curso superior", conta o professor.
Para dar conta de manter a graduação, o professor precisou passar por uma rotina muito pesada, de dois estágios e monitoria de estudos na Uniube. "A minha agenda era cheia. Eu tinha que ir às aulas no período da noite e, acima de tudo, eu precisava estudar. Então, de segunda a sexta, eu acordava por volta das seis e meia da manhã, era estagiário na Universidade. Após esse estágio, eu passava em casa, almoçava, ia para um outro estágio na Justiça Federal no período da tarde. Voltava às pressas, passava em casa, fazia um lanche, tomava um banho e ia dar monitoria de ensino antes de começar a aula. Saía da universidade, chegava em casa e ia fazer o almoço do dia seguinte, aproveitava e jantava. Por volta de onze horas da noite, eu tinha um horário fixo de estudo de pelo menos duas horas", complementa.
Para conseguir manter o ritmo de estudos, aos sábados Widson ia para a biblioteca da Universidade. No domingo, descansava para mais uma semana agitada. "Eu sempre fui muito metódico, desde a infância, gostava sempre das coisas no lugar, planejava, organizava horários, então, de certa forma ficou mais fácil organizar esse tempo. E aliás, além de ser bastante metódico, eu sempre fui bastante disciplinado também. Quando eu fazia um planejamento de acordo com o tempo disponível, eu tinha que aquela meta, eu tinha que cumprir aquele planejamento, sob pena de prejudicar uma outra situação".
O amor pelos estudos, que crescia cada vez mais, auxiliou o professor a conseguir manter a rotina pesada por tanto tempo. "A valorização dos estudos mudou a minha vida. E um ponto importante, eu sabia que eu tinha que estudar para mudar essa condição de vida, para melhorar de vida, para ter conhecimento, porém eu não tinha o hábito de estudar, eu não gostava de estudar. Sendo bem honesto, eu passei a gostar de estudar ou aprender a estudar já meio do primeiro período do curso", diz.
Durante um trabalho em sala de aula, sem ter estudado previamente, Widson percebeu que precisava mudar o pensamento e focar na educação. "A partir dali, eu passei a criar horários de estudo, passei a ter uma metodologia e, claro, a gostar de estudar. E eu costumo dizer que o gostar de estudar é um ciclo virtuoso, porque você começa a estudar, você vai descobrindo novas coisas, você percebe que precisa estudar ainda cada vez mais. Vem as atividades avaliativas, você começa a destacar, fechar as provas, tirar nota total. Depois, vira referência dos professores em sala de aula, dos colegas e você pega gosto pela coisa. Então, é um ciclo virtuoso, o gostar de estudar. O estudo foi tudo para mim, o que eu adquiri é algo que é meu e será para sempre. Nada me tira", destaca.
O professor
Foi com as monitorias e os grupos de estudos que Widson descobriu o amor pela docência. Determinado, passou a construir cada vez mais conhecimento para chegar ao novo objetivo. "Quando fiz a minha primeira monitoria de ensino, eu passei a ter certeza que um dos objetivos que eu tinha na minha carreira jurídica, na minha carreira profissional, era lecionar no curso de Direito e, se possível, lecionar no Direito aqui na Uniube. Então, logo que formei, seis meses após a minha formatura, eu participei de uma banca de seleção e, na ocasião, eu fui o professor selecionado para lecionar aqui no curso. Eu me lembro muito bem que uma das justificativas pela minha seleção foi em função das monitorias de ensino que fiz ao longo da graduação", compartilha.
Com mais de 16 anos de docência na Uniube, o ex-aluno tenta repassar em sala de aula aprendizados importantes que adquiriu com os desafios que enfrentou no passado. "Eu me sinto bastante confortável em expor essa situação, esse período da vida que tive na época de graduação. Eu me identifico bastante com os meus alunos nesse sentido e percebo que grande parte da turma fica comovida com a situação, pois muitos me procuram depois das aulas falando das dificuldades que eles têm e eu faço questão de auxiliá-los. Isso eu tenho comigo que é uma obrigação, é um dever que eu tenho de ajudá-los também nesse sentido. De ajudá-los numa montagem de um horário de estudo, de ajudá-los na busca de um estágio, para associar teoria e prática, e se possível, um estágio remunerado, para ajudar também no financeiro", continua.
O professor finaliza contando que o um dos principais ensinamentos que deixa para os alunos é que querer é poder. "Mas tudo tem uma regrinha, aliás, tem uma fórmula: objetivo + planejamento + disciplina = sucesso. Todos na turma têm um objetivo geral comum que é a conclusão do curso, mas essa conclusão deve ser alcançada com louvor, é fazer um curso bem feito. O objetivo específico é o que você quer fazer após a formatura. Depois vem o contexto do planejamento. Tudo tem que ter um planejamento. E deve ser feito de acordo com a realidade de cada um. E planejamento é: ter um horário de estudo, fazer um estágio, praticar atividades complementares, iniciação científica, monitoria, dentre outras. Por fim, a terceira e última parte da fórmula é a disciplina. É ter perseverança, é ter força de vontade, é não fraquejar, é não desistir diante das dificuldades que surgirão. E que serão várias dificuldades. É nesse sentido que passo essas experiências que tive durante o período de aluno, durante o período de estudante que ainda sou para os meus alunos da graduação".
Para Widson, a docência é a realização de um sonho. "Eu sou completamente apaixonado pela docência, é o que ela representa para mim. A busca do conhecimento produz riqueza, conquistas, satisfação. A conquista do conhecimento com base na educação, ninguém jamais tira da gente. A educação forma pessoas, forma profissionais", conclui.
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