Após 55 dias de internação no HVU, Manu recebeu alta e está de casa nova
Carolina Oliveira
Essa é a Manu, uma loba-guará adulta, que foi atropelada no início de março na BR-190, próximo a Uberaba. Ela chegou ao HVU com uma lesão grave na cabeça, além de ter fraturado a mandíbula. Foi resgatada por voluntários que a trouxeram ao hospital e passou por tratamento intensivo, semelhante a uma UTI de humanos. A loba foi apelidada pela equipe de Manu, pois em africano esse nome significa: segundo filho. E ela foi uma paciente muito especial.
Durante as duas primeiras semanas, o tratamento foi muito invasivo, com antibióticos e fisioterapia. "O trauma cranioencefálico aumenta muito a concentração de CO2, e o animal precisa ficar no oxigênio. A cabeça normalmente tem que ficar numa posição de 30 graus para diminuir a pressão intercraniana, e o paciente precisa ser constantemente monitorado. Durante o trauma, ela teve um quadro de pneumotórax e foi necessário fazermos a drenagem no tórax dela. Ela também teve fraturas na boca, o que dificultava a alimentação dela. Ela não tinha consciência, então tivemos que instituir medicamentos anticonvulsivantes, porque a pressão intracraniana aumentada poderia aumentar a chance de convulsões, além de analgésicos por conta da dor e medicamentos para diminuir aquela pressão.", explica Ananda Neves Teodoro, professora de anestesiologia e intensivismo do HVU.
A evolução da Manu impressionou a equipe positivamente. Com 20 dias ela começou a dar os primeiros passos e com cerca de 50 dias se recuperou completamente. "Quando ela chegou aqui, não conseguia se alimentar sozinha. Tivemos que passar uma sonda no esôfago para fazer a alimentação dela. Como é um paciente que fica só em decúbito lateral, foi realizado esse manejo intensivo 24 horas nas primeiras duas semanas de internação. Ela teve uma evolução muito boa. Conseguimos melhorar o tórax, ela não apresentou mais o quadro de pneumotórax e a parte de contusão pulmonar melhorou muito. Ela havia perdido a visão devido ao trauma, mas não foi permanente e com os exames percebemos que ela recuperou 100% a visão. Realmente é uma segunda filha para a gente.", finaliza Ananda.
Há mais de dez anos o HVU conta com a parceria do Ministério Público do Estado de Minas Gerais (MPMG), o que possibilita este tipo de tratamento e reintegração de animais silvestres. "Esta parceria é muito benéfica para os animais silvestres. Todos os animais recolhidos pela Polícia Ambiental de Uberaba e todo o Triângulo Mineiro vêm para o HVU e aqui recebem os primeiros socorros. O animal recuperado é liberado pelo Instituto Estadual de Florestas, encaminhando esses animais para vários destinos, entre eles a soltura. Para nós do Hospital Veterinário da Uniube e para o curso de Medicina Veterinária, tudo isto serve como um aprendizado diferenciado para os alunos, porque é raro aparecer animais silvestres em hospitais-escola, e aqui nós temos esse diferencial de qualidade, atendendo aves, répteis e mamíferos silvestres. Além disso, nós auxiliamos os animais para que voltem para a natureza e haja novamente a recuperação da nossa biodiversidade.", conta o médico-veterinário e gerente clínico do HVU, Cláudio Yudi.
Casa nova
A Manu foi encaminhada para o criadouro científico de fauna silvestre da CBMM, em Araxá. É um centro de referência para cuidados especiais com lobos-guará e outros animais ameaçados de extinção. Os projetos desenvolvidos pela CBMM buscam a preservação de espécies do Cerrado, fortalecendo e conservando o bioma onde a companhia está inserida. O local conta com 108 espécimes de animais e é pioneiro na reprodução dos lobos-guará, com 68 filhotes nascidos desde 1990. Além disso, reproduz e mantém animais silvestres ameaçados de extinção para fins de conservação, pesquisa e subsídio a programas de educação ambiental. Promove, ainda, a reintrodução na natureza e troca de conhecimento com outras instituições, mantendo a riqueza genética destas espécies.