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PANORAMA DA LITERATURA BRASILEIRA CONTEMPORÂNEA


Foto: arquivo ABL
Tema: O Romance
"(...)Temos Mário Palmério, que foi de fato, também, uma avis rara. Publicou, em determinado momento da vida dele, dois romances de muito sucesso, Vila dos confins e Chapadão do Bugre. Depois se elegeu deputado, foi para o Amazonas, comprou um barco, ficou lá, entrou para Academia, não vinha mais à Academia, não fez mais romance e já morreu. Mas, de qualquer maneira, Chapadão do Bugre, como também Vila dos confins, tiveram muito sucesso, e pelo menos a Rachel, que fez o prefácio de um deles, garante que o Mário Palmério é um grande romancista. Confesso que gostei dos livros dele, mas não assim com tantos exageros. Acho que, no fundo, ele era um ser humano extraordinário e que achou o seguinte: - Eu tenho que ser rico, foi rico; tenho que entrar para a Academia, entrou para a Academia; tenho que fazer romance, fez romance; tenho que ter um barco, teve o barco.- Então, é um homem realizado." (03/10/2000 )

Carlos Heitor Cony
http://www.carlosheitorcony.com.br/



"(...) Um livro interessante, talvez o único que valha a pena ler da presente enxurrada, pequenininho e bem-escrito, é Columbus, de Felipe Fernandez-Armestre, US$ 19,95, 218 pás., Oxford University Press.Apesar do nome, o autor é um tromba de Oxford e inglês, especializado no século 15 e 16 e em cartografia. E escreve bem, o sine qua no de um escritor, waaal... Por falar nisso recebo um bilhete amabilíssimo de Mário Palmério, a quem não vejo há séculos e a quem admiro muito. Seus livros, Vila dos Confins e Chapadão do Bugre são um must, obrigatórios.Mário foi o primeiro a tirar o regionalismo do realismo socialista de Jorge Amado e, apesar de sua relutância e protesto, Graciliano Ramos. Como Guimarães Rosa, Mário integrou o regionalismo na corrente mestra do romance do nosso tempo, que tudo abrange, que não está amargurado como um porco de cabeça para baixo a qualquer ideologia." (OESP, 20/10/91)

(*) Extraído do livro "O Dicionário da Corte de Paulo Francis", organizado por Daniel Piza, para a Companhia das Letras, 1996


Paulo Francis

caça-fantasmas

"
Para inúmeros críticos, 1956 foi deveras marcante. Sobre esse breve período de tempo Wilson Martins escreveu: "Se 1956 foi o ano de Mário Palmério (Vila dos confins), de Bernardo Élis (O tronco), de Geraldo Ferraz (Doramundo) e Guimarães Rosa (Corpo de baile e Grande sertão: veredas), foi também o ano de Campos de Carvalho (A lua vem da Ásia), cujas experiências narrativas mostravam que havia nas vinhas do Senhor veredas muito mais numerosas e variadas que as de Rosa, e, aliás, inteiramente diversas".

Nelson de Oliveira


"Estado - Você parece achar exagerado o prestígio de Guimarães Rosa. É isso mesmo?
Martins - Depois do Grande Sertão, Guimarães Rosa entrou em um beco sem saída: ou ele se renovava e já não era mais Guimarães Rosa, ou se repetia. Por isso, Grande Sertão não teve continuidade. Logo depois do lançamento do romance, encontrei-me acidentalmente com Sérgio Milliet, que era muito chegado ao Rosa. Ele me disse: "Este é apenas o primeiro volume, vai haver uma continuação que se chamará Grande Sertão: Cidades." Mas, em vez de escrever a continuação projetada, Rosa escreveu aqueles contos do Corpo de Baile, que são totalmente diferentes. Não conseguiu continuar seu projeto. Corpo de Baile é um livro que ninguém leu. Eu penso que o caso Guimarães Rosa precisa ser reexaminado pela crítica do futuro.

Estado - E Clarice Lispector?
Martins -
Acho que a obra de Clarice também precisa ser repensada. Foi Clarice, e não Rosa, quem inaugurou o período estetizante de nossa literatura, pois Perto do Coração Selvagem é de 1943 e Sagarana, de 1946. A grande crítica, com as exceções de Antonio Candido e Sérgio Milliet, praticamente silenciou a respeito do romance de Clarice. E Rosa se apossou da glória de pioneiro, quando a glória devia ser dela. Rosa apossou-se ainda de outras glórias. Por exemplo, da glória de Mário Palmério que, em 1956, publicou Vida (sic) dos Confins, um romance que considero muito superior ao Grande Sertão. O romance de Rosa emocionou por causa de suas experiências lingüísticas. Mas, romance por romance, o de Palmério é melhor. Voltando a Clarice: depois de Perto do Coração Selvagem, ela caiu num certo limbo. No meu julgamento, seus livros de contos são infinitamente melhores que seus romances. Ela não é boa romancista."

José Castello / Wilson Martins


HISTÓRICA/Bernardo Élis

Euler Belém – O crítico Wilson Martins costuma escrever que Mário Palmério é um injustiçado. Para ele, Palmério é, imerecidamente, ofuscado por Guimarães Rosa, que ele dá entender que não é tão grandioso quanto parece. O senhor concorda?

Acho que Wilson Martins não tem razão nesse ponto. A literatura de Mário Palmério tem um certo valor, alguma qualidade, mas ele não é um grande autor dessa dimensão que Wilson Martins lhe quer dar.

Jornal Opção,entrevista de Bernardo Élis (julho de 1996).



Foto: Releituras
Quando eu chegar ao Céu...

" Lá estava eu, 1968. Um ano depois da morte de Rosa. Mário Palmério falou sobre ele, como seu herdeiro. E gostei tanto do discurso, equilibrado, lúcido, original. Se me lembro. Foi procurar cartas íntimas de Rosa para grande amigo, médico e fazendeiro em Minas, Moreira Barbosa. Cartas de outrora. Deliciosas, fraternais, confiantes, de pura entrega. Reveladoras do ser complexíssimo, fechado, carente, que gostava de disfarçar, despistar, ir e vir, comensal do mistério. Saudarei a uns e outros na largueza dadivosa do Céu, turbilhão de amor, como dizia o insaciável Léon Bloy."

Antonio Carlos Villaça
http://www.releituras.com/acvillaca_menu.asp


Vontade de abraçar o mundo

"Mesmo que uma antologia deva ser avaliada pelo que inclui, e não pelo que exclui, uma pequena falha precisa ser notada: porque, ao selecionar dois ensaios sobre Vinícius de Moraes — um de Miguel Sanches Neto e outro de Ricardo Cravo Albin -, O Itamaraty na Cultura Brasileira não poderia deixar outros nomes escaparem. Érico Veríssimo e Ruy Barbosa, por exemplo — dois brilhantes escritores e diplomatas ativos -, não figuram entre os analisados. Nem Mário Palmério, um autor desperdiçado, de quem hoje quase ninguém lê Chapadão do Bugre, um livro que pinta com maravilhosa precisão a paisagem e a linguagem do interior brasileiro."

Eduardo Carvalho
http://www.digestivocultural.com/colunistas/imprimir.asp?codigo=1189



Foto: Revista Vox / Imprensa Oficial do Estado do Rio Grande do Sul

Dê exemplos de escritores que escrevem para o "bem comum".

Todos meus ídolos: Graciliano, Hemingway, Castro Alves, Augusto dos Anjos, Drummond, Bandeira, Whitman, Steinbeck, Levi-Strauss, Esopo, Erico Verissimo, Mário Palmério, tantos. Eles não precisam confessar isso para estar evidente. Neles não há cinismo, não há descrença, há confiança sempre no humano e perseguição sempre da bondade, mesmo que em Augusto dos Anjos o cientificismo e o aparente culto da morte disfarcem a paixão pela humanidade (e não a aversão pela humanidade) que marca os escritores que escrevem para o bem comum, não apenas por gosto ou necessidade.

Domingos Pellegrini Jr. / Revista Vox nº 8



Literatura Brasileira, por Sergius Gonzaga

"Narrado em terceira pessoa, paralela à qual coexiste a "consciência" de Camurça, a mula de montaria que visualiza o sentido de toda a trama - inclusive sua própria morte, como ocorre com os protagonistas de O coronel e o lobisomem e Sargento Getúlio -, Chapadão do Bugre é, sob o ponto de vista da estrutura narrativa, bastante insólito, rompendo os esquemas tradicionais."


"Quem apostou que o máximo a que se poderia chegar com o romance regionalista foi alcançado por Mário Palmério, em Vila dos Confins, um dos raros casos em nossa literatura de aprovação entusiasmada de crítica e público, felizmente perdeu. O próprio Mário Palmério tratou de superar seu aplaudido romance de estréia com uma obra ainda mais impressionante: Chapadão do Bugre."


Palmério, autor dos confins

"A comadre Célia Novaes Lazarotto, esposa e companheira do grande Poty há mais de 30 anos, costuma contar que Mário Palmério é um homem tão estranho que ao publicar seu segundo romance, "Chapadão do Bugre", em 1956, fez questão que não só a capa fosse feita pelo seu amigo Poty, como também exigiu do editor José Olympio que fosse utilizada a mesma gráfica, os mesmos profissionais que, meses antes, havia produzido industrialmente o seu primeiro livro - 'Vila dos Confins'."

Aramis Millarch

Gente

VICENTE DE PAULA ATHAYDE lançou um novo ensaio crítico "A Narrativa da Ficção", cuja primeira edição está esgotando-se rapidamente. (…) Considera como "primeiro trabalho sério" o ensaio sobre "O conto no romance de Mário Palmério", divulgado em O ESTADO

Aramis Millarch


Jânio Quadros, contista...

" Raras vezes o lançamento de um livro transforma-se num acontecimento tão badalativo como a tarde de autógrafos que ex-presidente Jânio Quadros fará amanhã, em Curitiba, na Ghignone da Rua das Flores, no final da tarde. (…) A partir da capa, é destacado o fato de dois nomes de grande expressão terem escrito prefácios: o senador (e imortal da Academia Brasileira de Letras) José Sarney e o romancista Mário Palmério, autor de um dos maiores best-sellers da literatura brasileira "Vila dos Confins" - e hoje vivendo nos confins da Amazônia, a bordo de um grande barco."

Aramis Millarch

"Chapadão do Bugre" is a TV-epic based on the novel of the same title written by one of the most important brazilian writer of this century, Mr. Mário Palmério. The adaptation for TV of the cruel story of "Izé de Arimáteia" (wonderfully played by Celulari) in the 20's years when started the exploration of the inner lands of Brazil is remarkable and credible. There's a lot of violence here, but it's okay because it's tightly attached to the truth of these times. If you want to see a competent brazilian's TV production, don't miss this one.

Alexandre Gazineo
Internet Movie Data Base
http://www.imdb.com/title/tt0229113/

Ao meu ver, a importância da obra literária de Mário Palmério reside nos achados lingüísticos com que tão expressivamente está representada a travessia do povo brasileiro. A travessia de uma cultura agrária - em que a visão de mundo colhe na natureza seus costumes, sua linguagem e sua ética - para uma cultura urbana. Em Chapadão do Bugre sobressai a intensidade da natureza interiorizada nos gestos, nos olhares, nos falares das personagens. Vila dos Confins representa o momento em que essa ética, esse modus vivendi agrário é afetado pela malícia e milícia da cultura urbana. Mas é mais que isso: é a representação estética de uma relação de troca entre essas culturas, entre esses mundos. Nisso a obra é atemporal. Ainda hoje, há quase meio século da sua primeira edição, sua leitura causa a impressão de que essa história é de homens e de fatos dos confins do Brasil contemporâneo.

Ivanilda Barbosa, mestre em Literatura Brasileira pela UNB, é professora da Universidade de Uberaba.