"Santinho" de Mario Palmério, usado na campanha de 1950
Getulista de coração

Mário Palmério foi um apaixonado por política. Depois de fundar o Partido Trabalhista Brasileiro (PTB) de Uberaba e semear dezenas de diretórios do partido Getulista na região, o jovem de 34 anos, ao votar pela primeira vez na vida, votou em si mesmo e elegeu-se Deputado Federal.

Na Câmara foi vice-presidente da Comissão de Educação e Cultura durante seu primeiro mandato (1950-1954). Reeleito em 1954, passou a integrar a Comissão de Orçamento e a Mesa da Câmara. Em 1955 matriculou-se na Escola Superior de Guerra, onde concluiu o Curso Superior.

No período de sua reeleição, a Câmara discutia intensamente o problema das fraudes nas eleições e debatia modificações na lei eleitoral. Para contribuir nas discussões, Palmério escreveu uma série de relatórios expondo as artimanhas para burlar as urnas, sobretudo em cidades recém-emancipadas do interior. Era o embrião de seu primeiro livro: Vila dos Confins. Em 1958 o deputado reelegeu-se pela terceira vez. Em seus discursos legislativos, Mário Palmério foi um defensor da política de interiorização do desenvolvimento brasileiro, que historicamente esteve concentrado no eixo Rio-São Paulo. O deputado também fez discursos à favor da emancipação da região do Triângulo do Estado de Minas Gerais.

Palmério reuniu histórias folclóricas em seu período parlamentar. Em 1961, por exemplo, saiu na imprensa que o presidente Jânio Quadros prometera visitar a fazenda de São José da Cangalha, de Mário Palmério, localizada no interior do Mato Grosso, para realizar com o dono uma caçada de onças. E para recepcionar o presidente, o Deputado Mário Palmério dera ordens para algumas onças serem caçadas vivas e domesticadas, para servirem de alvo à espingarda presidencial...

Em setembro de 1962 Mário Palmério foi nomeado pelo presidente João Goulart para assumir a Embaixada do Brasil no Paraguai. Tornou-se embaixador em outubro daquele ano e só deixou o posto no golpe de 1964. Sua passagem pelo Paraguai foi marcada, além da reforma do edifício da embaixada, pela conclusão das obras do Colégio Experimental, pela Ponte Internacional de Foz do Iguaçu e pelas primeiras negociações sobre a futura instalação da usina hidrelétrica binacional de Itaipu.

Para se ter uma idéia de sua atividade como embaixador, no dia 9 de outubro1963, a coluna de Wilson Figueiredo no Jornal do Brasil noticiou que o "homem mais atarefado da diplomacia brasileira", o embaixador Mário Palmério, vai e vem de Assunssão todas as semanas para tratar do "sentimento nacionalista paraguaio" que andava inflamado com o "projeto brasileiro de construção de uma grande hidrelátrica em Sete Quedas".

Mas deixando de lado as eventuais rixas nacionalistas, o embaixador integrou-se intensamente na vida cultural paraguaia e, pianista "de ouvido", foi compositor de várias guarânias de sucesso. Entre elas, a inesquecível "Saudade".


Mário Palmério em campanha para a prefeitura de Uberaba, em 1970

Em 1970, Mário Palmério viria a ser candidato à prefeitura de Uberaba, mas perdeu as eleições para Arnaldo Rosa Prata. Nos anos seguintes, deixou a política, mas vez ou outra deu os seus ensaios. Na década de 1990, Rachel de Queiroz vivia insistindo para que ele voltasse a escrever. Ela sugeria até que ele passasse a usar computador! Mas beirando os oitenta anos, Mário Palmério dizia querer mesmo é voltar para a política e candidatar-se a Câmara Federal…

Seu temperamento forte evidentemente trouxe alguns raivosos inimigos políticos. Mas o velho Palmério sabia difrenciar as coisas. "Ora, nos meus tempos de política fui um elemento combativo e combatido, mas nunca guardei ressentimentos ou mágoas de ninguém. Sempre procurei encarar todos os episódios ligados à minha vida política como coisas próprias da política, onde o homem deveria ser necessariamente preservado."