Diário
do Congresso Nacional
Sessão |
Publicação |
Assunto |
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Coluna |
22/10/53 |
23/10/53 |
Como
líder de partido> em torno dos
ataques de que foi vítima o orador
foi parte do Almirante Pena Boto |
3315 |
1ª |
O
SR. PRESIDENTE:
Há
sôbre a mesa e é deferido o seguinte
REQUERIMENTO
Sr.
Presidente:
Peço
conceder a palavra ao Deputado Mário
Palmério por delegação
de Líder de Partido, na hora do grande
expediente e na forma regimental.
Rio,
22 de outubro de 1953 Vieira Lins, Líder
do P.T.B.
O
SR. PRESIDENTE:
Tem
a palavra o Sr. Mário Palmério
O
SR. MÁRIO PALMÉRIO:
(Lê
o seguinte discurso) (como Líder de Partido)
Sr. Presidente, Senhores Deputados. Há
pouco mais de um mês, tivemos oportunidade
de ouvir, nesta Casa, enérgico e necessário
discurso de um dos nossos mais brilhantes e
queridos colegas, o senhor Deputado Ruy de Almeida,
que subiu a esta tribuna para rebater levianas
acusações formuladas contra sua
pessoa pelo já tristemente famoso Almirante
Pena Boto.
Uso,
hoje, senhor Presidente, esta mesma tribuna
por motivo semelhante, já que, agora,
a vítima das intrigas e da leviandade
daquela alta patente da nossa Marinha de Guerra
é o modesto Deputado que ocupa, hoje,
a atenção de Vossas Excelências.
Por mais incrível que pareça dada
a minha mais descolorida atuação
nessa Casa, fui alvo escolhido por aquele Almirante,
como se pode facilmente verificar lendo-se uma
das entrevistas que êle vem concedendo
aos "Diários Associados", reportágens
escritas pelo jornalista Sebastião Viana.
Data, a reportágem em aprêço,
do dia 10 do mês corrente, e traz como
título, espalhafatosas manchetes tão
do gôsto de S. Ex.ª. "Marcha
da revolução nos subterrâneos
da ilegalidade no País; "Seiscentas
mil balas para armas portáteis entram
em Uberlândia".
O
estilo da reportágem que contém
depoimentos do Almirante Pena Boto é
o mesmo de sempre: acusação ao
Gôverno, que tolera, no dizer de Sua Excelência,
células comunistas e militantes do credo
vermelho nas repartições públicas
mais importantes a começar pelo Catete,
Ministério do Trabalho, Instituto, etc...a
divulgação de suposta e poderosa
rede de espionagem bolchevista dentro do País
e a preparação organizada e eficiente
da revolução comunista, citando-se
os sindicatos, as organizações
de classe e até mesmo as pessoas que
estariam envolvidas nessa tarefa subversiva
e subterrânea.
Não
seria eu, Sr. Presidente, não fôssem
os repetidos protestos já levantados,
e, agora, o caso especial das acusações
à minha pessoa, quem viria aqui, desmentir
os graves fatos denunciados por S. Exª.
Ocupando o mais alto pôsto hierárquico
da nossa Armada e Presidente da Cruzada Anti-Comunista,
o Almirante Pena Boto deveria contar com fontes
fiéis de informações.
Acontece,
porém, que, além de merecerem
muito mais crédito as afirmações
de um alto, honrado e digno oficial das nossas
Forças Armadas o nosso nobre colega
Coronel Ruy de Almeida, do que o vulgar sensacionalismo
de um energúmeno, afirma o Sr. Almirante
Pena Boto, na sua já citada reportágem,
outros fatos absolutamente inverídicos
e referências a meu respeito e à
região que represento nesta Casa inteiramente
falsas.
Diz
o Sr. Almirante Pena Boto:
"A
verdade é que o tráfico de armas
se processa intensa e ininterruptamente, conforme
poderei provar citando fatos concretos. Vou
citar apenas um exemplo recente, num só
trimestre dêste ano foram vendidas 600
mil balas para armas portáteis, em Uberlândia,
Minas Gerais. É de grande vulto a munição
que ali chega, constantemente, de procedência
paulista. E o que é grave: muita munição
é enviada para o Estado de Goiás;
em nome de firmas não registradas no
Ministério da Guerra, no sentido da criação
de uma unidade do Exército naquela cidade,
para deter o curso da infiltração
vermelha, não surtiram qualquer efeito.
Houve a promessa de dividir uma unidade entre
Ipameri, Goiânia e Uberlândia, mas,
na ausência do Ministro da Guerra, o Deputado
Mário Palmério (do PTB), conseguiu,
agindo em altas esferas, sediar em Uberaba a
companhia que deveria ir para Uberlândia,
apesar de Uberaba já contar com uma unidade
da Polícia Militar.
Houve,
o que é evidente, a intenção
de não permitir o combate ao comunismo
em Uberlândia, onde Roberio Margonari,
chefe comunista local, opera sob as vistas de
um Estado Maior, cujas principais cabeças
são: o médico José Virgílio
Mineiro, médico Manuel Tomás Teixeira
de Souza, engenheiro Tarnier Teixeira, médico
Jonas Ajube, farmacêutico Auleo Mendes
Diniz, prof. Nelson Cupertino, contadores Henckmar
Borges e José Tomás de Aquino,
fazendeiro Milton Vilela, comerciantes Alberto
Castanheira e Alcides Simão Helou, livreiro
Romualdo Gonçalves, motoristas Valdemar
Silva e João Cândido Ferreira.
Como Uberlândia constitui um ponto chave
comunista no Triângulo Mineiro, convém
observar ainda que a Rádio Educacional
local, provada sua ligação com
o elemento comunista, continua no ar, graças
aos esforços do mesmo deputado trabalhista
junto às autoridades do Govêrno".
Eis,
entretanto, Sr. Presidente e Senhores Deputados,
a verdade:
Não
é Uberlândia a Moscou brasileira
do Sr. Almirante Pena Boto e nem o Triângulo
Mineiro o quartel general do movimento subversivo
comunista, como ele já o afirmou, em
outra entrevista, publicada com grande destaque
na revista "O Cruzeiro".
Uberlândia,
é uma das mais cultas, prósperas
e dinâmicas cidades do interior brasileiro.
O fato de ali existir um pequeno grupo de comunistas
confessos o que se dá em numerosas
outras cidades brasileiras não
define Uberlândia como foco comunista
e a prova mais evidente é a de que, nas
últimas eleições, os comunistas
e os seus simpatisantes (sic) disputaram as
eleições municipais com candidatos
próprios, na legenda do Partido Republicano,
e foram inteiramente derrotados, conseguindo
apenas eleger um Vereador, dentre os quinze
Vereadores que compõe a nobre Câmara
Municipal daquele Município. Ora, Sr.
Presidente e Srs. Deputados, é ridículo
tachar de centro comunista uma cidade que elege
apenas um vereador em quinze... Nas outras 37
cidades do Triângulo, nenhum comunista
mais foi eleito, apesar de se apresentarem como
candidatos nas diferentes chapas partidárias
e eleitorais. Resposta incisiva, imediata e
irretorquível, já soube dar aos
agitadores profissionais do anticomunismo, na
região triangulina. S. Exª. Reverendissíma
D. Alexandre Gonçalves do Amaral, DD.
Bispo Diocesano de Uberaba, uma das maiores
figuras do clero brasileiro, homem altamente
respeitado pela sua coragem cívica e
por sua inquebrantável firmeza de princípios.
S. Ex.ª. Revma. com seu verbo destemido
e a sua figurante pena, reduziu a pó
essas acusações contra a região
que compõe a sua diocese, e bastaria
a sua insuspeitíssima definição
para pô rfim (sic) , de uma vez por tôdas,
a essas explorações que só
podem ser provocadas por causas que se não
definem, obviamente inconfessáveis.
Eis,
o que aconteceu, relativamente a Unidade do
Exército que se instalará brevemente
em Uberaba, e que o Almirante Pena Boto, explora
insana ou perversamente, atribuindo-me fins
de proteção ao desenvolvimento
comunista em Uberlândia:
Desde
os meus tempos de ginásio, Senhor Presidente,
e da minha instrução militar no
Tiro de Guerra de Uberaba, sabia eu da existência
de unidade do Exército Nacional, criada
e não instalada naquela cidade, se me
não engano, um Grupo de Obuses.
O
Sr. Ruy Almeida - Lí, certa vez,
que êsse Almirante havia declarado que
uma tropa, de uns 50 a 100 mil homens, estava
em ponto determinado do território Nacional.
é lamentável que êsse cidadão
não saiba, como oficial general, que
êsse pequeno exército seria facilmente
localizado, pois só o abastecimento a
denunciaria, fatalmente. É deplorável
que el, como técnico, diga uma barbaridade
dessa.
O
SR. MÁRIO PALMÉRIO Obrigado
a V.Exa.
A
cidade sempre reivindicou a concretização
dessa instalação, por motivos
os mais justos, pois não há cidade
que não deseje, possuir um regimento,
um batalhão, um corpo de tropa qualquer
do Exército a contribuir para o seu desenvolvimento
e para a sua segurança.
Eleito
deputado, talvez a primeira medida que pleiteei
do Senhor Presidente da República foi
a instalação dessa unidade prevista
há tanto tempo. E o meu desejo tornou-se
mais intenso ainda por pretender eu, também,
a criação de um C.P.O.R., ou mesmo
de um N.P.ºR. em Uberaba, cidade que conta
hoje com três estabelecimentos de ensino
superior, a Faculdade de Filosofia Ciências
e Letras "S. Thomás de Aquino",
da Universidade Católica de Minas Gerais,
e as Faculdades de Odontologia e de Direito
do Triângulo Mineiro, iniciativas, essas
duas últimas que são o fruto de
tôda a minha vida de professor, atividade
a que sempre me dediquei. Ainda, agora, estamos
instalando um grupo de professores e médicos
de Uberaba, a Faculdade de Medicina, todos esses
estabelecimentos de ensino superior representando
o primeiro passo para a instalação
da nossa sonhada Universidade do Triângulo.
A existência dessas Faculdades, a numerosa
população acadêmica de Uberaba
e do Triângulo, esses os fatores principais
que me levaram a pretender instalar, também,
em Uberaba, o Centro de Preparação
de Oficiais da Reserva, para poder atender à
preparação militar superior dos
acadêmicos que ali residem e estudam.
Fiz,
assim, logo depois de eleito, várias
solicitações a S. Exa. o Sr. General
Caiado de Castro, DD. Chefe do Gabinete Militar
da Presidência da República, para
que me ajudasse junto ao Senhor Ministro da
Guerra e ao Estado Maior das Forças Armadas,
a obter a unidade do Exército para Uberaba,
porque, além de ser velha reivindicação
da cidade, sem ela não se poderia instalar
o tão necessário C.P.O.R.
Naquela
ocasião, pleiteei, também, a instalação
de uma outra unidade em Uberlândia, em
virtude da sua excepcional posição
geográfica, poderoso centro de irradiação
para três Estados vizinhos: - São
Paulo, Goiás e Mato Grosso.
Peço
permissão a V.Exa. Senhor Presidente,
para ler a carta que me dirigiu o eminente General
Caiado de Castro, em 20 de julho de 1952, dando
conta das providencias que S. Exa. havia tomado,
atendendo aos constantes e veementes apoios
que eu lhe havia dirigido :
"Rio,
20 de julho de 1952.
Prezado
amigo Deputado Mário Palmério.
Saudações.
Sómente
hoje me é dado o prazer de responder,
com alguma precisão, às consultas
que me vem fazendo acerca da possibilidade de
se instalar um Núcleo de Preparação
de Oficiais da Reserva (N.P.O.R.) em Uberaba,
e de uma unidade do Exército no Triângulo
Mineiro.
O
assunto não depende de mim, mas merece
tôda a minha simpatia e mesmo o meu apoio
pessoal, em tudo que possa ajudar, pois, além
do fato sentimental, visto haver passado parte
da minha infância nessa promissora região
mineira tão ligada a Goiás, há
a certeza, que todo o brasileiro alimenta, de
que em verdade uma das glebas de maior riqueza
em nossa terra, que só espera comunicações
adequadas para desenvolver-se surpreendentemente.
Demais, é bem conhecida a idéia
do nosso Presidente, consubstanciada na velha
fórmula da "marcha para o Oeste",
consentânea com o ideal dos Constituintes
de 1891, mantido na Constituição
de 1946 e relativa à mudança da
Capital da República para o planalto
central.
Procurei
ouvir, a respeito, a opinião do Senhor
Ministro da Guerra e do Estado Maior do Exército.
E posso hoje informar, mesmo correndo o risco
de cometer uma indiscrição, ser
o General Ciro Espírito Santo Cardoso
inteiramente favorável à instalação
de no mínimo uma unidade do Exército
no Triângulo Mineiro e outra em Goiás,
dependendo isso, naturalmente, de recursos financeiros
que, no momento, são escassos. O nosso
Ministro da Guerra, embora haja nascido no Paraná,
onde o seu ilustre pai servia desde o memorável
cêrco da Lapa, é de origem [ilegível]
[ilegível] , avaliar em seus justos
têrmos o que significa para o nosso país
o desenvolvimento do Brasil Central.
Informando-me,
por fim, no Estado Maior do Exército,
a respeito da instalação de um
NPOR em Uberaba, tive a satisfação
de ver que ali a iniciativa encontrou o esperado
e integral apoio. Há, porém, uma
circunstância de ordem técnica,
só se poderá organizar um N.P.O.R
em localidade onde [ haja] unidade do
Exército, com os recursos imprescindíveis
em instrutores e material para a instrução.
Essas
conclusões [ ilegível]
[
ilegível] o problema em duas fases:
a) instalação de uma unidade em
Uberaba, talvez com uma sub-unidade em Uberlândia;
b) organização de um N.P.O.R.
em Uberaba. Para a primeira fase, certo não
se poder dispensar a cooperação
das autoridades Mineiras, tanto do Governador
do Estado como, também, dos Prefeitos
e Representantes dos Municípios de Uberaba
e Uberlândia. Depois desses resultaria,
estou certo, a obtenção dos elementos
indispensáveis a efetivação
da feliz idéia, que o ilustre amigo defende
com tamanho ardor e patriotismo, o empreendimento
se tornaria simples e de rápida solução.
Empolgado
co ma (sic) iniciativa sua e animado com os
aplausos que mereceu do nosso Ministro da Guerra,
conto em que Uberaba, que tanto contribuiu para
a nossa defesa no decurso da cruenta guerra
da Tríplice Aliança, possa em
breve hospedar uma unidade do Exército
Nacional e ver a sua mocidade estudiosa conquistar
na própria cidade heráldica a
alva estréla de Aspirante a Oficial da
Reserva.
Atenciosamente,
o amigo e admirador.
as.)
Gen. Bda. A.Caiado de Castro, Chefe do Gabinete
Militar da Presidência da República".
Senhor
Presidente, esta carta esclarece perfeitamente
bem o assunto, e creio, Senhor Presidente que
merece [ de] muito mais fé a
palavra do Senhor General Caiado de Castro,
DD. Chefe da Casa Militar do Senhor Presidente
da República e Secretário do Conselho
Nacional de Segurança, do que a do Sr.
Almirante Pena Boto, que teve a leviandade de
afirmar que eu agi junto às altas esferas
do Govêrno, com intenção
de desviar de Uberlândia corpo de tropa
do Exército que ali se pretendia instalar,
com o fim de dar combate ao comunismo, aproveitando,
para isso, a ausência do Senhor Ministro
da Guerra...
Relativamente
à afirmação de que a Rádio
Educadora de Uberlândia que talvez
não saiba o Sr. Almirante Pena Boto ser
propriedade de uma sociedade da qual sou o maior
cotista tem provadas ligações
com o elemento comunista, desejo historiar ràpidamente,
também, aos meus ilustres e nobres colegas,
a sua fundação:
Em
Uberlândia, somente havia uma estação
de rádio, da propriedade de uma cidadão
militante da política daquela cidade,
Secretário do Diretório Municipal
do PSD local. Alguns amigos meus daquela cidade,
vários dêles membros do Diretório
Municipal do PTB, logo depois das eleições
de 3 de oututbro (sic) , organizaram uma sociedade
para pleitear a concessão de uma outra
estação, já que a cidade
comportava perfeitamente bem mais de uma emissora.
Sabedor,
da iniciativa desses meos amigos, movimentou-se
o proprietário da outra Rádio.
Teceu, ésse cidadão, as mais infames
intrigas e lançou mão do célebre
recurso de tachar de comunistas os organizadores
da nova estação. As denúncias
vieram ao conhecimento do Serviço Secreto,
ficando eu sabedor dessas denúncias,
tôdas elas improcedentes.
Eu,
que havia solicitado dos poderes competentes
a licença para a nossa Rádio e
conhecia perfeitamente bem os seus organizadores
e de onde partia a injúria que visava
prejudicá-los, não tive dúvidas
em assumir toda a responhabilidade (sic) perante
o Gôverno e, inclusive, adotar nova organização
para a sociedade, passando a figurar como o
maior cotista da sociedade mantenedora daquêle
novo serviço de rádio-difusão.
Evidentemente,
como não sou comunista e a minha vida
e as minhas convicções políticas
são sobejamente conhecidas na região
onde sempre vivi e exerci minhas atividades
de magistério, as calúnias tiveram
de cessar e a Rádio Educadora, de Uberlândia,
veio para o ar, para desespéro daqueles
que não a desejavam e também
hoje tenho razão para supor para
S. Exª o Sr. Almirante Pena Boto, yque
(sic) parece ser sócio de rádio
em Uberlândia, tal a solidariedade que
empresta ao processo caluniador adotado pelos
seus proprietários.
Senhor
Presidente, requeri, ontem, a Vossa Excelência,
incluísse no questionário a ser
respondido por S. Exª o Sr. Ministro da
Marinha, por ocasião de sua próxima
vinda a esta Câmara por requerimento de
nobres colegas nossos, a pergunta seguinte:
Se o Sr. Almirante Pena Boto, nas suas declarações
pela imprensa, conta com a solidariedade do
Ministério a que pertence e, em caso
contrário por que não foi ainda
advertido aquêle Almirante pelo fato de
estar acusando leviana e injustamente a membros
do Parlamento Nacional?
Desejo,
Senhor Presidente, que o Sr. Ministro da Marinha
se pronuncie oficialmente sobre o procedimento
censurável de um almirante da nossa Armada,
que se agasalha sob a farda e um título
sobremaneira honrosos e responsáveis
para caluniar e tentar incompatibilizar com
a opinião pública membros do Congresso
em pleno exercício de suas altas funções.
O Sr. Almirante Pena Boto não me conhece.
Não se deteve, antes de injuriar, para
examinar o meu passado e o meu comportamento
social e político. Mente quando afirma
que agi no sentido de favorecer conspirações
comunistas, aproveitando da ausência do
Ministro da Guerra e agindo em altas esferas,
e mente quando afirma que a minha estação
de rádio de Uberlândia está
ligada ao elemento comunista.
Só
encontro, Sr. Presidente, duas explicações
para a sua condenável atitude: ou trata-se
de uma (sic) homem agitado, um psicopata vítima
de um lamentável e grave complexo qualquer,
ou trata-se de um homem mau, perverso, agindo
por instigação de terceiros, prestando-se
ao nada recomendável papel de instrumento
de vinganças pessoais. Fôsse o
Sr. Almirante Pena Boto um cidadão comum,
sem nenhum título, um "zé-ninguém"
qualquer, e eu não estaria aqui prendendo
a atenção de Vossa Excelência
e dos meus nobres colegas. Trata-se, entretanto,
Senhor Presidente, de um homem que deve ser
responsável e deve medir bem o que fala
ou o que escreve.
Louco
ou mau, não pode, entretanto, continuar
impunemente injuriando e caluniando os homens
públicos do País. A própria
Marinha de Guerra deve se interessar em esclarecer
o dilema e tomar as precauções
necessárias, evitando, assim, que nós
mesmos as tomemos em legítima defesa
contra as perigosas arremetidas do escandaloso
almirante.
Realizei,
Senhor Presidente, em Uberaba, um empreendimento
educacional de vulto e sou responsável
pela continuação e pelo bem estar
e tranqüilidade de mais de uma centena
de companheiros que comigo colaboram, professores
e auxiliares outros que compõem a administração
e o corpo docente dos meus estabelecimentos
de ensino. Cêrca de dois mil alunos freqüentam
os seus cursos secundários, técnicos
e superiores. Não posso permitir que
todos êsses meus amigos e colaboradores
seja vítimas das suspeitas de que trabalham
para um conspirador e nem admitirei que se tente
destruir a obra educacional que realizei e venho
realizando com tão duros sacrifícios
e que constitui todo o meu mais entranhado ideal.
O
Sr. Lúcio Bittencourt Falando
em nome de seus colegas da bancada do PTB, de
Minas, quero dizer que todos estamos inteiramente
solidários com V.Exª na repulsa
à vil calúnia do Almirante Pena
Boto.
O
SR. MÁRIO PALMÉRIO Muito
agradecido a V.Exª.
O
Sr. Leopoldo Maciel Sendo Representante
do Triângulo Mineiro, como V. Exª,
causaram-me profunda surprêsa as acusações
que lhe vem fazendo alta patente de nossa Marinha
de Guerra. Conheço a atuação
política e profissional de V. Exª.
Conheço, também, seus sentimentos
democráticos e sua linha política
tôda no sentido da mais pura democracia.
Ainda mais, Sr. deputado, tive a honra de ser
amigo de seu pai, o juiz Palmério, que
honrou e ilustrou a magistratura mineira, e
sei como êsse eminente cidadão
educava os filhos e conduzia a família.
O SR. MÁRIO PALMÉRIO Agradecido
a V.Exª.
O
Sr. Rondon Pacheco Como adversário
político de V.Exª na mesma zona
eleitoral, no Estado de Minas Gerais, sinto-me
à vontade para declarar a improcedência
de semelhantes imputações e também
dizer que o diretor da Rádio Educadora
de Uberlândia é homem que vive
inteiramente integrado na ordem democrática.
O
SR. MÁRIO PALMÉRIO Muito
obrigado.
O
Sr. Antônio Corrêa Todos
nós, na Câmara, estamos sentindo
a improcedência dessas acusações
irresponsáveis e caluniosas.
No
que me toca, devo declarar que não participo
da surpresa do nôbre colega Leopoldo Maciel,
não porque desconheça a altitude
de V. Exª e a pureza de seus ideais democráticos,
mas porque, como tôda a nação,
estou ciente da irresponsabilidade dêsse
almirant eque (sic) vive enxovalhando a farda
da Marinha brasileira.
O
SR. MÁRIO PALMÉRIO Obrigado
a V. Exª
O
SR. PRESIDENTE Atenção!
Está esgotado o tempo.
Aguardo
apenas o pronunciamento oficial de S. Exª,
o Senhor Ministro da Marinha sôbre o comportamento
inexplicável do Sr. Almirante Pena Boto.
Desejo saber se pode ou não a Marinha
advertir e mesmo punir quem veste a sua gloriosa
farda e usa os seus gloriosos galões
e dessa honrosas insígnias se prevalece
para mentir e injuriar. Se a Marinha mesma não
puder fazê-lo, vou pedir, então,
a solidariedade desta Câmara a que pertenço.
E
tenho o direito, Sr. Presidente, de solicitar
essa solidariedade dos meus nobres colegas,
porque todos aqui me conhecem e sabem que eu
nunca, dentro desta Casa, agi, apesar de estar
no pleno gôzo das minhas imunidades e
no exercício da mais absoluta liberdade
de expor as minhas idéias, a não
ser em inteira consonância com a orientação
do meu Partido, p Partido Trabalhista Brasileiro,
porque assim realmente o penso e o programa
do meu Partido é o meu único credo
político. Se aqui não tenho podido
me destacar por me faltarem os dotes de inteligência
e de cultura (não apoiados) que são
os atributos dos ilustres membros desta Casa,
sei, entretanto, que tanto o nobre líder
da maioria como o nobre líder do meu
Partido me consideram como um soldado disciplinado
e sempre atento as suas determinações.
(Muito bem).
Homem
de Partido, conhecem-me os meus companheiros
como um dedicado correligionário. Trabalhista
por convicção, admirador incondicional
e irrestrito do meu eminente chefe e querido
amigo o Sr. Presidente Getúlio Vargas,
à sombra de cujo nome me elegi deputado
federal, não seria eu, Senhor Presidente,
que, em hora grave como a que vivemos, viesse
procurar facilitar conspirações
e usar o alto prestigio do meu mandato em benefício
da desordem e da guerra civil. Se meu esfôrço,
se a minha atuação nesta Casa
e nas fileiras do meu Partido de alguma coisa
valer, servirá sómente para ajudar
àqueles que procuram o progresso, o bem
estar e a prosperidade do nosso povo e da nossa
Pátria.
No
setor de organização partidária,
aí tenho sido realmente atuante, sou
forçado a confessar. E essa minha atuação,
traduzida nas recentes vitorias eleitorais do
meu Partido no pleito municipal de 2 de novembro,
em Minas especialmente na região em que
atuo, provocaram , é óbvio, reação.
Minha
conduta político-partidária poderá,
entretanto, ser perfeitamente bem esclarecida
pelo testemunho dos nossos nobres colegas Rondon
Pacheco, Leopoldo Maciel e Vasconcelos Costa,
líderes de outros partidos que não
o P.T.B. e que militam na mesma zona eleitoral
que a minha. Poderão eles, Senhor Presidente,
informar se sou um agitador ou um instrumento
de conspiração e revoluções,
e se tenho, no sorganismos (sic) municipais
do meu Partido, homens cuja atuação
política seja, de qualquer forma, condenável.
Senhor
Presidente, não há comunismo no
Triângulo Mineiro e nem há conspiração,
guerrilheiros armados ou movimentos clandestinos
de munições de guerra. Atividades
dessa ordem e dêsse vulto não passariam
desapercebidas para quem ali vive, há
tantos anos, como eu, e que realmente conhece
bem tôda a região e as tendências
políticos (sic) dos seus habitantes.
O que há no Triângulo, Senhor Presidente,
em Uberaba, Uberlândia, Ituiutaba, Araguari
em tôdas as suas grandes e prósperas
cidades, é realmente muito trabalho construtivo,
e muita ordem.
E
há, também, Senhor Presidente,
muito trabalhismo, muito getulismo e um extenso
e profundo movimento de solidariedade, confiança
e reconhecimento ao eminente Chefe da Nação
o Sr. Presidente Getúlio Vargas que nunca
se esqueceu do grande povo triangulino, determinando
em seu favor, a execução de medidas
administrativas de vulto e canalizando para
a região inestimáveis benefícios
de tôda ordem.
Não
lamento, Senhor Presidente, não merecer
as simpatias do Sr. Almirante Pena Boto. Hoje,
essas simpatias, dada a sua condição
pública e notória de mero agente
e provocador de inoportuna e criminosa agitação,
só poderiam me causar mais danos e preocupações,
do que as injúrias que assacou contra
mim e contra o meu trabalho. Desejo, entretanto,
que se ponha um fim a essas grosseiras calúnias.
Continuarei
êsse meu modesto trabalha (sic), Senhor
Presidente, na certeza de merecer honrosa confiança
dos meus nobres colegas de Parlamento e certo,
também, e estar servindo, com pouco brilho
mas com muita dignidade, ao patriótico
e benemérito Govêrno do Presidente
do meu glorioso Partido, meu eminente chefe,
o preclaro Sr. Presidente Getúlio Vargas.
(Muito bem; muito bem. Palmas).
DIÁRIO
do Congresso Nacional.
Sessão: 22/10/53. Publicação:
23/10/53. Assunto: Como líder de partido>
em torno dos ataques de que foi vítima
o orador foi parte do Almirante Pena Boto. p.
13315. Coluna: 1. |