Diário do Congresso Nacional

Sessão Publicação Assunto Página Coluna
22/10/53 23/10/53 Como líder de partido> em torno dos ataques de que foi vítima o orador foi parte do Almirante Pena Boto 3315

 

O SR. PRESIDENTE:

Há sôbre a mesa e é deferido o seguinte

REQUERIMENTO

Sr. Presidente:

Peço conceder a palavra ao Deputado Mário Palmério por delegação de Líder de Partido, na hora do grande expediente e na forma regimental.

Rio, 22 de outubro de 1953 — Vieira Lins, Líder do P.T.B.

O SR. PRESIDENTE:

Tem a palavra o Sr. Mário Palmério

O SR. MÁRIO PALMÉRIO:

(Lê o seguinte discurso) (como Líder de Partido) — Sr. Presidente, Senhores Deputados. Há pouco mais de um mês, tivemos oportunidade de ouvir, nesta Casa, enérgico e necessário discurso de um dos nossos mais brilhantes e queridos colegas, o senhor Deputado Ruy de Almeida, que subiu a esta tribuna para rebater levianas acusações formuladas contra sua pessoa pelo já tristemente famoso Almirante Pena Boto.

Uso, hoje, senhor Presidente, esta mesma tribuna por motivo semelhante, já que, agora, a vítima das intrigas e da leviandade daquela alta patente da nossa Marinha de Guerra é o modesto Deputado que ocupa, hoje, a atenção de Vossas Excelências. Por mais incrível que pareça dada a minha mais descolorida atuação nessa Casa, fui alvo escolhido por aquele Almirante, como se pode facilmente verificar lendo-se uma das entrevistas que êle vem concedendo aos "Diários Associados", reportágens escritas pelo jornalista Sebastião Viana. Data, a reportágem em aprêço, do dia 10 do mês corrente, e traz como título, espalhafatosas manchetes tão do gôsto de S. Ex.ª. "Marcha da revolução nos subterrâneos da ilegalidade no País; "Seiscentas mil balas para armas portáteis entram em Uberlândia".

O estilo da reportágem que contém depoimentos do Almirante Pena Boto é o mesmo de sempre: acusação ao Gôverno, que tolera, no dizer de Sua Excelência, células comunistas e militantes do credo vermelho nas repartições públicas mais importantes a começar pelo Catete, Ministério do Trabalho, Instituto, etc...a divulgação de suposta e poderosa rede de espionagem bolchevista dentro do País e a preparação organizada e eficiente da revolução comunista, citando-se os sindicatos, as organizações de classe e até mesmo as pessoas que estariam envolvidas nessa tarefa subversiva e subterrânea.

Não seria eu, Sr. Presidente, não fôssem os repetidos protestos já levantados, e, agora, o caso especial das acusações à minha pessoa, quem viria aqui, desmentir os graves fatos denunciados por S. Exª. Ocupando o mais alto pôsto hierárquico da nossa Armada e Presidente da Cruzada Anti-Comunista, o Almirante Pena Boto deveria contar com fontes fiéis de informações.

Acontece, porém, que, além de merecerem muito mais crédito as afirmações de um alto, honrado e digno oficial das nossas Forças Armadas — o nosso nobre colega Coronel Ruy de Almeida, do que o vulgar sensacionalismo de um energúmeno, afirma o Sr. Almirante Pena Boto, na sua já citada reportágem, outros fatos absolutamente inverídicos e referências a meu respeito e à região que represento nesta Casa inteiramente falsas.

Diz o Sr. Almirante Pena Boto:

"A verdade é que o tráfico de armas se processa intensa e ininterruptamente, conforme poderei provar citando fatos concretos. Vou citar apenas um exemplo recente, num só trimestre dêste ano foram vendidas 600 mil balas para armas portáteis, em Uberlândia, Minas Gerais. É de grande vulto a munição que ali chega, constantemente, de procedência paulista. E o que é grave: muita munição é enviada para o Estado de Goiás; em nome de firmas não registradas no Ministério da Guerra, no sentido da criação de uma unidade do Exército naquela cidade, para deter o curso da infiltração vermelha, não surtiram qualquer efeito. Houve a promessa de dividir uma unidade entre Ipameri, Goiânia e Uberlândia, mas, na ausência do Ministro da Guerra, o Deputado Mário Palmério (do PTB), conseguiu, agindo em altas esferas, sediar em Uberaba a companhia que deveria ir para Uberlândia, apesar de Uberaba já contar com uma unidade da Polícia Militar.

Houve, o que é evidente, a intenção de não permitir o combate ao comunismo em Uberlândia, onde Roberio Margonari, chefe comunista local, opera sob as vistas de um Estado Maior, cujas principais cabeças são: o médico José Virgílio Mineiro, médico Manuel Tomás Teixeira de Souza, engenheiro Tarnier Teixeira, médico Jonas Ajube, farmacêutico Auleo Mendes Diniz, prof. Nelson Cupertino, contadores Henckmar Borges e José Tomás de Aquino, fazendeiro Milton Vilela, comerciantes Alberto Castanheira e Alcides Simão Helou, livreiro Romualdo Gonçalves, motoristas Valdemar Silva e João Cândido Ferreira. Como Uberlândia constitui um ponto chave comunista no Triângulo Mineiro, convém observar ainda que a Rádio Educacional local, provada sua ligação com o elemento comunista, continua no ar, graças aos esforços do mesmo deputado trabalhista junto às autoridades do Govêrno".

Eis, entretanto, Sr. Presidente e Senhores Deputados, a verdade:

Não é Uberlândia a Moscou brasileira do Sr. Almirante Pena Boto e nem o Triângulo Mineiro o quartel general do movimento subversivo comunista, como ele já o afirmou, em outra entrevista, publicada com grande destaque na revista "O Cruzeiro".

Uberlândia, é uma das mais cultas, prósperas e dinâmicas cidades do interior brasileiro. O fato de ali existir um pequeno grupo de comunistas confessos — o que se dá em numerosas outras cidades brasileiras — não define Uberlândia como foco comunista e a prova mais evidente é a de que, nas últimas eleições, os comunistas e os seus simpatisantes (sic) disputaram as eleições municipais com candidatos próprios, na legenda do Partido Republicano, e foram inteiramente derrotados, conseguindo apenas eleger um Vereador, dentre os quinze Vereadores que compõe a nobre Câmara Municipal daquele Município. Ora, Sr. Presidente e Srs. Deputados, é ridículo tachar de centro comunista uma cidade que elege apenas um vereador em quinze... Nas outras 37 cidades do Triângulo, nenhum comunista mais foi eleito, apesar de se apresentarem como candidatos nas diferentes chapas partidárias e eleitorais. Resposta incisiva, imediata e irretorquível, já soube dar aos agitadores profissionais do anticomunismo, na região triangulina. S. Exª. Reverendissíma D. Alexandre Gonçalves do Amaral, DD. Bispo Diocesano de Uberaba, uma das maiores figuras do clero brasileiro, homem altamente respeitado pela sua coragem cívica e por sua inquebrantável firmeza de princípios. S. Ex.ª. Revma. com seu verbo destemido e a sua figurante pena, reduziu a pó essas acusações contra a região que compõe a sua diocese, e bastaria a sua insuspeitíssima definição para pô rfim (sic) , de uma vez por tôdas, a essas explorações que só podem ser provocadas por causas que se não definem, obviamente inconfessáveis.

Eis, o que aconteceu, relativamente a Unidade do Exército que se instalará brevemente em Uberaba, e que o Almirante Pena Boto, explora insana ou perversamente, atribuindo-me fins de proteção ao desenvolvimento comunista em Uberlândia:

Desde os meus tempos de ginásio, Senhor Presidente, e da minha instrução militar no Tiro de Guerra de Uberaba, sabia eu da existência de unidade do Exército Nacional, criada e não instalada naquela cidade, se me não engano, um Grupo de Obuses.

O Sr. Ruy Almeida - Lí, certa vez, que êsse Almirante havia declarado que uma tropa, de uns 50 a 100 mil homens, estava em ponto determinado do território Nacional. é lamentável que êsse cidadão não saiba, como oficial general, que êsse pequeno exército seria facilmente localizado, pois só o abastecimento a denunciaria, fatalmente. É deplorável que el, como técnico, diga uma barbaridade dessa.

O SR. MÁRIO PALMÉRIO — Obrigado a V.Exa.

A cidade sempre reivindicou a concretização dessa instalação, por motivos os mais justos, pois não há cidade que não deseje, possuir um regimento, um batalhão, um corpo de tropa qualquer do Exército a contribuir para o seu desenvolvimento e para a sua segurança.

Eleito deputado, talvez a primeira medida que pleiteei do Senhor Presidente da República foi a instalação dessa unidade prevista há tanto tempo. E o meu desejo tornou-se mais intenso ainda por pretender eu, também, a criação de um C.P.O.R., ou mesmo de um N.P.ºR. em Uberaba, cidade que conta hoje com três estabelecimentos de ensino superior, a Faculdade de Filosofia Ciências e Letras "S. Thomás de Aquino", da Universidade Católica de Minas Gerais, e as Faculdades de Odontologia e de Direito do Triângulo Mineiro, iniciativas, essas duas últimas que são o fruto de tôda a minha vida de professor, atividade a que sempre me dediquei. Ainda, agora, estamos instalando um grupo de professores e médicos de Uberaba, a Faculdade de Medicina, todos esses estabelecimentos de ensino superior representando o primeiro passo para a instalação da nossa sonhada Universidade do Triângulo. A existência dessas Faculdades, a numerosa população acadêmica de Uberaba e do Triângulo, esses os fatores principais que me levaram a pretender instalar, também, em Uberaba, o Centro de Preparação de Oficiais da Reserva, para poder atender à preparação militar superior dos acadêmicos que ali residem e estudam.

Fiz, assim, logo depois de eleito, várias solicitações a S. Exa. o Sr. General Caiado de Castro, DD. Chefe do Gabinete Militar da Presidência da República, para que me ajudasse junto ao Senhor Ministro da Guerra e ao Estado Maior das Forças Armadas, a obter a unidade do Exército para Uberaba, porque, além de ser velha reivindicação da cidade, sem ela não se poderia instalar o tão necessário C.P.O.R.

Naquela ocasião, pleiteei, também, a instalação de uma outra unidade em Uberlândia, em virtude da sua excepcional posição geográfica, poderoso centro de irradiação para três Estados vizinhos: - São Paulo, Goiás e Mato Grosso.

Peço permissão a V.Exa. Senhor Presidente, para ler a carta que me dirigiu o eminente General Caiado de Castro, em 20 de julho de 1952, dando conta das providencias que S. Exa. havia tomado, atendendo aos constantes e veementes apoios que eu lhe havia dirigido :

"Rio, 20 de julho de 1952.

Prezado amigo Deputado Mário Palmério.

Saudações.

Sómente hoje me é dado o prazer de responder, com alguma precisão, às consultas que me vem fazendo acerca da possibilidade de se instalar um Núcleo de Preparação de Oficiais da Reserva (N.P.O.R.) em Uberaba, e de uma unidade do Exército no Triângulo Mineiro.

O assunto não depende de mim, mas merece tôda a minha simpatia e mesmo o meu apoio pessoal, em tudo que possa ajudar, pois, além do fato sentimental, visto haver passado parte da minha infância nessa promissora região mineira tão ligada a Goiás, há a certeza, que todo o brasileiro alimenta, de que em verdade uma das glebas de maior riqueza em nossa terra, que só espera comunicações adequadas para desenvolver-se surpreendentemente. Demais, é bem conhecida a idéia do nosso Presidente, consubstanciada na velha fórmula da "marcha para o Oeste", consentânea com o ideal dos Constituintes de 1891, mantido na Constituição de 1946 e relativa à mudança da Capital da República para o planalto central.

Procurei ouvir, a respeito, a opinião do Senhor Ministro da Guerra e do Estado Maior do Exército. E posso hoje informar, mesmo correndo o risco de cometer uma indiscrição, ser o General Ciro Espírito Santo Cardoso inteiramente favorável à instalação de no mínimo uma unidade do Exército no Triângulo Mineiro e outra em Goiás, dependendo isso, naturalmente, de recursos financeiros que, no momento, são escassos. O nosso Ministro da Guerra, embora haja nascido no Paraná, onde o seu ilustre pai servia desde o memorável cêrco da Lapa, é de origem [ilegível] [ilegível] , avaliar em seus justos têrmos o que significa para o nosso país o desenvolvimento do Brasil Central.

Informando-me, por fim, no Estado Maior do Exército, a respeito da instalação de um NPOR em Uberaba, tive a satisfação de ver que ali a iniciativa encontrou o esperado e integral apoio. Há, porém, uma circunstância de ordem técnica, só se poderá organizar um N.P.O.R em localidade onde [ haja] unidade do Exército, com os recursos imprescindíveis em instrutores e material para a instrução.

Essas conclusões [ ilegível] [ ilegível] o problema em duas fases: a) instalação de uma unidade em Uberaba, talvez com uma sub-unidade em Uberlândia; b) organização de um N.P.O.R. em Uberaba. Para a primeira fase, certo não se poder dispensar a cooperação das autoridades Mineiras, tanto do Governador do Estado como, também, dos Prefeitos e Representantes dos Municípios de Uberaba e Uberlândia. Depois desses resultaria, estou certo, a obtenção dos elementos indispensáveis a efetivação da feliz idéia, que o ilustre amigo defende com tamanho ardor e patriotismo, o empreendimento se tornaria simples e de rápida solução.

Empolgado co ma (sic) iniciativa sua e animado com os aplausos que mereceu do nosso Ministro da Guerra, conto em que Uberaba, que tanto contribuiu para a nossa defesa no decurso da cruenta guerra da Tríplice Aliança, possa em breve hospedar uma unidade do Exército Nacional e ver a sua mocidade estudiosa conquistar na própria cidade heráldica a alva estréla de Aspirante a Oficial da Reserva.

Atenciosamente, o amigo e admirador.

as.) Gen. Bda. A.Caiado de Castro, Chefe do Gabinete Militar da Presidência da República".

Senhor Presidente, esta carta esclarece perfeitamente bem o assunto, e creio, Senhor Presidente que merece [ de] muito mais fé a palavra do Senhor General Caiado de Castro, DD. Chefe da Casa Militar do Senhor Presidente da República e Secretário do Conselho Nacional de Segurança, do que a do Sr. Almirante Pena Boto, que teve a leviandade de afirmar que eu agi junto às altas esferas do Govêrno, com intenção de desviar de Uberlândia corpo de tropa do Exército que ali se pretendia instalar, com o fim de dar combate ao comunismo, aproveitando, para isso, a ausência do Senhor Ministro da Guerra...

Relativamente à afirmação de que a Rádio Educadora de Uberlândia — que talvez não saiba o Sr. Almirante Pena Boto ser propriedade de uma sociedade da qual sou o maior cotista — tem provadas ligações com o elemento comunista, desejo historiar ràpidamente, também, aos meus ilustres e nobres colegas, a sua fundação:

Em Uberlândia, somente havia uma estação de rádio, da propriedade de uma cidadão militante da política daquela cidade, Secretário do Diretório Municipal do PSD local. Alguns amigos meus daquela cidade, vários dêles membros do Diretório Municipal do PTB, logo depois das eleições de 3 de oututbro (sic) , organizaram uma sociedade para pleitear a concessão de uma outra estação, já que a cidade comportava perfeitamente bem mais de uma emissora.

Sabedor, da iniciativa desses meos amigos, movimentou-se o proprietário da outra Rádio. Teceu, ésse cidadão, as mais infames intrigas e lançou mão do célebre recurso de tachar de comunistas os organizadores da nova estação. As denúncias vieram ao conhecimento do Serviço Secreto, ficando eu sabedor dessas denúncias, tôdas elas improcedentes.

Eu, que havia solicitado dos poderes competentes a licença para a nossa Rádio e conhecia perfeitamente bem os seus organizadores e de onde partia a injúria que visava prejudicá-los, não tive dúvidas em assumir toda a responhabilidade (sic) perante o Gôverno e, inclusive, adotar nova organização para a sociedade, passando a figurar como o maior cotista da sociedade mantenedora daquêle novo serviço de rádio-difusão.

Evidentemente, como não sou comunista e a minha vida e as minhas convicções políticas são sobejamente conhecidas na região onde sempre vivi e exerci minhas atividades de magistério, as calúnias tiveram de cessar e a Rádio Educadora, de Uberlândia, veio para o ar, para desespéro daqueles que não a desejavam e também — hoje tenho razão para supor — para S. Exª o Sr. Almirante Pena Boto, yque (sic) parece ser sócio de rádio em Uberlândia, tal a solidariedade que empresta ao processo caluniador adotado pelos seus proprietários.

Senhor Presidente, requeri, ontem, a Vossa Excelência, incluísse no questionário a ser respondido por S. Exª o Sr. Ministro da Marinha, por ocasião de sua próxima vinda a esta Câmara por requerimento de nobres colegas nossos, a pergunta seguinte: Se o Sr. Almirante Pena Boto, nas suas declarações pela imprensa, conta com a solidariedade do Ministério a que pertence e, em caso contrário por que não foi ainda advertido aquêle Almirante pelo fato de estar acusando leviana e injustamente a membros do Parlamento Nacional?

Desejo, Senhor Presidente, que o Sr. Ministro da Marinha se pronuncie oficialmente sobre o procedimento censurável de um almirante da nossa Armada, que se agasalha sob a farda e um título sobremaneira honrosos e responsáveis para caluniar e tentar incompatibilizar com a opinião pública membros do Congresso em pleno exercício de suas altas funções. O Sr. Almirante Pena Boto não me conhece. Não se deteve, antes de injuriar, para examinar o meu passado e o meu comportamento social e político. Mente quando afirma que agi no sentido de favorecer conspirações comunistas, aproveitando da ausência do Ministro da Guerra e agindo em altas esferas, e mente quando afirma que a minha estação de rádio de Uberlândia está ligada ao elemento comunista.

Só encontro, Sr. Presidente, duas explicações para a sua condenável atitude: ou trata-se de uma (sic) homem agitado, um psicopata vítima de um lamentável e grave complexo qualquer, ou trata-se de um homem mau, perverso, agindo por instigação de terceiros, prestando-se ao nada recomendável papel de instrumento de vinganças pessoais. Fôsse o Sr. Almirante Pena Boto um cidadão comum, sem nenhum título, um "zé-ninguém" qualquer, e eu não estaria aqui prendendo a atenção de Vossa Excelência e dos meus nobres colegas. Trata-se, entretanto, Senhor Presidente, de um homem que deve ser responsável e deve medir bem o que fala ou o que escreve.

Louco ou mau, não pode, entretanto, continuar impunemente injuriando e caluniando os homens públicos do País. A própria Marinha de Guerra deve se interessar em esclarecer o dilema e tomar as precauções necessárias, evitando, assim, que nós mesmos as tomemos em legítima defesa contra as perigosas arremetidas do escandaloso almirante.

Realizei, Senhor Presidente, em Uberaba, um empreendimento educacional de vulto e sou responsável pela continuação e pelo bem estar e tranqüilidade de mais de uma centena de companheiros que comigo colaboram, professores e auxiliares outros que compõem a administração e o corpo docente dos meus estabelecimentos de ensino. Cêrca de dois mil alunos freqüentam os seus cursos secundários, técnicos e superiores. Não posso permitir que todos êsses meus amigos e colaboradores seja vítimas das suspeitas de que trabalham para um conspirador e nem admitirei que se tente destruir a obra educacional que realizei e venho realizando com tão duros sacrifícios e que constitui todo o meu mais entranhado ideal.

O Sr. Lúcio Bittencourt — Falando em nome de seus colegas da bancada do PTB, de Minas, quero dizer que todos estamos inteiramente solidários com V.Exª na repulsa à vil calúnia do Almirante Pena Boto.

O SR. MÁRIO PALMÉRIO — Muito agradecido a V.Exª.

O Sr. Leopoldo Maciel — Sendo Representante do Triângulo Mineiro, como V. Exª, causaram-me profunda surprêsa as acusações que lhe vem fazendo alta patente de nossa Marinha de Guerra. Conheço a atuação política e profissional de V. Exª. Conheço, também, seus sentimentos democráticos e sua linha política tôda no sentido da mais pura democracia. Ainda mais, Sr. deputado, tive a honra de ser amigo de seu pai, o juiz Palmério, que honrou e ilustrou a magistratura mineira, e sei como êsse eminente cidadão educava os filhos e conduzia a família.

O SR. MÁRIO PALMÉRIO — Agradecido a V.Exª.

O Sr. Rondon Pacheco — Como adversário político de V.Exª na mesma zona eleitoral, no Estado de Minas Gerais, sinto-me à vontade para declarar a improcedência de semelhantes imputações e também dizer que o diretor da Rádio Educadora de Uberlândia é homem que vive inteiramente integrado na ordem democrática.

O SR. MÁRIO PALMÉRIO — Muito obrigado.

O Sr. Antônio Corrêa — Todos nós, na Câmara, estamos sentindo a improcedência dessas acusações irresponsáveis e caluniosas.

No que me toca, devo declarar que não participo da surpresa do nôbre colega Leopoldo Maciel, não porque desconheça a altitude de V. Exª e a pureza de seus ideais democráticos, mas porque, como tôda a nação, estou ciente da irresponsabilidade dêsse almirant eque (sic) vive enxovalhando a farda da Marinha brasileira.

O SR. MÁRIO PALMÉRIO — Obrigado a V. Exª

O SR. PRESIDENTE — Atenção! Está esgotado o tempo.

Aguardo apenas o pronunciamento oficial de S. Exª, o Senhor Ministro da Marinha sôbre o comportamento inexplicável do Sr. Almirante Pena Boto. Desejo saber se pode ou não a Marinha advertir e mesmo punir quem veste a sua gloriosa farda e usa os seus gloriosos galões e dessa honrosas insígnias se prevalece para mentir e injuriar. Se a Marinha mesma não puder fazê-lo, vou pedir, então, a solidariedade desta Câmara a que pertenço.

E tenho o direito, Sr. Presidente, de solicitar essa solidariedade dos meus nobres colegas, porque todos aqui me conhecem e sabem que eu nunca, dentro desta Casa, agi, apesar de estar no pleno gôzo das minhas imunidades e no exercício da mais absoluta liberdade de expor as minhas idéias, a não ser em inteira consonância com a orientação do meu Partido, p Partido Trabalhista Brasileiro, porque assim realmente o penso e o programa do meu Partido é o meu único credo político. Se aqui não tenho podido me destacar por me faltarem os dotes de inteligência e de cultura (não apoiados) que são os atributos dos ilustres membros desta Casa, sei, entretanto, que tanto o nobre líder da maioria como o nobre líder do meu Partido me consideram como um soldado disciplinado e sempre atento as suas determinações. (Muito bem).

Homem de Partido, conhecem-me os meus companheiros como um dedicado correligionário. Trabalhista por convicção, admirador incondicional e irrestrito do meu eminente chefe e querido amigo o Sr. Presidente Getúlio Vargas, à sombra de cujo nome me elegi deputado federal, não seria eu, Senhor Presidente, que, em hora grave como a que vivemos, viesse procurar facilitar conspirações e usar o alto prestigio do meu mandato em benefício da desordem e da guerra civil. Se meu esfôrço, se a minha atuação nesta Casa e nas fileiras do meu Partido de alguma coisa valer, servirá sómente para ajudar àqueles que procuram o progresso, o bem estar e a prosperidade do nosso povo e da nossa Pátria.

No setor de organização partidária, aí tenho sido realmente atuante, sou forçado a confessar. E essa minha atuação, traduzida nas recentes vitorias eleitorais do meu Partido no pleito municipal de 2 de novembro, em Minas especialmente na região em que atuo, provocaram , é óbvio, reação.

Minha conduta político-partidária poderá, entretanto, ser perfeitamente bem esclarecida pelo testemunho dos nossos nobres colegas Rondon Pacheco, Leopoldo Maciel e Vasconcelos Costa, líderes de outros partidos que não o P.T.B. e que militam na mesma zona eleitoral que a minha. Poderão eles, Senhor Presidente, informar se sou um agitador ou um instrumento de conspiração e revoluções, e se tenho, no sorganismos (sic) municipais do meu Partido, homens cuja atuação política seja, de qualquer forma, condenável.

Senhor Presidente, não há comunismo no Triângulo Mineiro e nem há conspiração, guerrilheiros armados ou movimentos clandestinos de munições de guerra. Atividades dessa ordem e dêsse vulto não passariam desapercebidas para quem ali vive, há tantos anos, como eu, e que realmente conhece bem tôda a região e as tendências políticos (sic) dos seus habitantes. O que há no Triângulo, Senhor Presidente, em Uberaba, Uberlândia, Ituiutaba, Araguari em tôdas as suas grandes e prósperas cidades, é realmente muito trabalho construtivo, e muita ordem.

E há, também, Senhor Presidente, muito trabalhismo, muito getulismo e um extenso e profundo movimento de solidariedade, confiança e reconhecimento ao eminente Chefe da Nação o Sr. Presidente Getúlio Vargas que nunca se esqueceu do grande povo triangulino, determinando em seu favor, a execução de medidas administrativas de vulto e canalizando para a região inestimáveis benefícios de tôda ordem.

Não lamento, Senhor Presidente, não merecer as simpatias do Sr. Almirante Pena Boto. Hoje, essas simpatias, dada a sua condição pública e notória de mero agente e provocador de inoportuna e criminosa agitação, só poderiam me causar mais danos e preocupações, do que as injúrias que assacou contra mim e contra o meu trabalho. Desejo, entretanto, que se ponha um fim a essas grosseiras calúnias.

Continuarei êsse meu modesto trabalha (sic), Senhor Presidente, na certeza de merecer honrosa confiança dos meus nobres colegas de Parlamento e certo, também, e estar servindo, com pouco brilho mas com muita dignidade, ao patriótico e benemérito Govêrno do Presidente do meu glorioso Partido, meu eminente chefe, o preclaro Sr. Presidente Getúlio Vargas. (Muito bem; muito bem. Palmas).

DIÁRIO do Congresso Nacional. Sessão: 22/10/53. Publicação: 23/10/53. Assunto: Como líder de partido> em torno dos ataques de que foi vítima o orador foi parte do Almirante Pena Boto. p. 13315. Coluna: 1.