Mário
Palmério
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De
Monte Carmelo para o mundo
Therani
Garcia
No
dia 1º de março de 1916, em Monte Carmelo
(MG), nasceu Mário Palmério, filho
do italiano Francisco Palmério e de D.
Maria da Glória Palmério. O pai
era engenheiro civil, advogado, jornalista e, em seus últimos
anos de vida, foi Juiz de Direito. Como engenheiro,
Francisco construiu, entre outros, o palacete
de Antônio
Pedro Naves, na Rua Manoel Borges
patrimônio histórico de Uberaba,
demolido em 2002.
Mário
Palmério estudou no Colégio
Marista Diocesano, em Uberaba,
e no Colégio
Regina Pacis, em Araguari. Aos 19 anos matriculou-se
na Escola Militar de Realengo, no Rio de Janeiro,
mas logo desligou-se por motivos
de saúde. Em 1936 foi trabalhar no Banco
Hipotecário e Agrícola de MG,
na sucursal de São Paulo.
Palmério
começou a vida de educador quando, na
capital paulista, fez o magistério secundário
e foi professor de Matemática. O interesse por essa disciplina fez
com que, em 1939, entrasse na seção
de Matemática da Faculdade de Filosofia
da Universidade de São Paulo. Neste mesmo ano casou-se com
Cecília Arantes, com quem teria dois
filhos: Marcelo e Marília.
Ao
voltar para Uberaba, Mário Palmério e a irmã Maria Lourencina fundaram o Liceu do Triângulo
Mineiro, na Vigário Silva. A princípio, a pequena escola oferecia apenas um curso de madureza, um cursinho preparatório para carreira bancária e um curso para exames de admissão. No entanto, no segundo semestre de 1940 o irmãos já conseguiram estruturar um curso primário. Um ano depois, já sem a parceria com a irmã, Mário Palmério obteve autorização federal para a criação de um curso secundário. Nascia aí o Ginásio Triângulo Mineiro, que seria instalado na Rua Cel. Manoel Borges, no prédio do extinto Ginásio Brasil.
O ginásio
fez fama na cidade. Naquela época, no que diz respeito ao ensino secundário, havia no município o Ginásio
Diocesano só para homens
e o Ginásio Nossa
Senhora das Dores só para
mulheres. Para o entusiasmo dos jovens uberabenses
dos anos 40, o Ginásio Triângulo Mineiro foi um colégio misto em uma cidade interiorana. Mas o professor queria mais. Em 1942 criou uma escola de comércio, que começaria as atividades no ano seguinte. Em 1943 obteve um empréstimo na Caixa Econômica Federal e deu início às obras da sede própria da escola, na Av. Guilherme Ferreira. A escola ficou pronta em 1945 e marcou uma escalada empresarial que impressionou toda a cidade. No início de 1947 o Ginásio conquistou o status de colégio; ou seja, a partir daí, a instituição estaria habilitada a oferecer também o curso Científico. Até que, em novembro de 1947, o Governo autorizou o funcionamento da
Faculdade de Odontologia o primeiro passo
efetivo para a transformação de
Uberaba em cidade universitária.
Em 1951
Palmério fundou ainda a Faculdade de
Direito. Mas a vontade de criar faculdades não
parava. Em 1954, foi um dos grandes responsáveis
pela implantação da Faculdade
de Medicina do Triangul Mineiro (FMTM), a atual Universidade Federal do Triângulo Mineiro (UFTM).
Em 1956 fundaria ainda a Escola de Engenharia.
O
criador de faculdades tinha outra paixão:
a política.
Depois de fundar o Partido Trabalhista Brasileiro
(PTB) de Uberaba e semear dezenas de diretórios
do partido Getulista na região, o jovem
de 34 anos elegeu-se Deputado Federal. Na Câmara
foi vice-presidente da Comissão de Educação
e Cultura durante todo o seu primeiro mandato
(1950-1954). Reeleito em 1954, passou a integrar
a Comissão de Orçamento e a Mesa
da Câmara. Em 1955 matriculou-se na Escola
Superior de Guerra, onde concluiu o Curso
Superior.
Literatura
No
período de sua reeleição,
a Câmara discutia intensamente o problema
das fraudes nas eleições e debatia
modificações na lei eleitoral.
Político precocemente experiente, para
contribuir nas discussões, Palmério
escreveu uma série de relatórios
expondo as artimanhas para se fraudar eleições,
sobretudo em cidades de interior. Era o embrião
de seu primeiro livro: Vila
dos Confins. De relatório, esses
registros tornaram-se crônicas e depois
constituíram-se em romance. Foi Rachel
de Queiroz quem levou os originais para
a editora José
Olympio. Vila dos Confins fez enorme sucesso
já no ano de publicação,
em 1956. E isso, no mesmo ano em que Guimarães
Rosa lançara sua obra-prima: Grande
Sertões: Veredas.
Em
1958 o deputado reelegeu-se pela terceira vez
e agora com sua mais expressiva votação.
Em setembro de 1962 foi nomeado pelo presidente
João Goulart para assumir a Embaixada
do Brasil no Paraguai. Tornou-se embaixador
em outubro daquele ano e só deixou o
posto no golpe de 1964. Sua passagem pelo Paraguai
foi marcada, além da reforma do edifício
da embaixada, pela conclusão das obras
do Colégio Experimental, pela Ponte Internacional
de Foz do Iguaçu e pelas primeiras negociações
sobre a futura instalação da usina
hidrelétrica binacional de Itaipu.
Mário Palmério integrou-se intensamente
na vida cultural paraguaia e, pianista "de
ouvido", foi compositor de várias
guarânias
de sucesso. Entre elas, a inesquecível
"Saudade".
Ao regressar ao país em 1964, foi para
a fazenda São José do Cangalha,
no Mato Grosso, e escreveu Chapadão
do Bugre, romance inspirado em uma chacina
política ocorrida no começo do
século 20, na cidade mineira de Passos.
A exuberante descrição lingüística
e o relato dos costumes regionais foram muito
bem recebidos pela crítica. Em 1968,
Palmério acabou eleito para a vaga de
Guimarães Rosa na Academia
Brasileira de Letras (ABL).
Amazônia
Dom
Alexadre, Chico Xavier e Mário
Palmério reunidos em evento (Foto: Arquivo João Eurípedes Sabino)
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De
fevereiro de 1969 a fevereiro de 1970, Mário
Palmério viajou
pelo rio Amazonas, conhecendo a vida e os
costumes dos ribeirinhos. Ao voltar, foi candidato
à prefeitura de Uberaba, mas perdeu as
eleições. No ano seguinte, viajou
pela Europa e África proferindo palestras
sobre seus livros e sobre a Amazônia.
Logo depois, voltou ao Triângulo e criou
as Faculdades Integradas de Uberaba (Fiube)
em 1972. Já no ano seguinte, criou os
cursos de Educação Física,
Psicologia, Pedagogia, Estudos Sociais e Comunicação
Social. Em 1976, seria inaugurado o complexo
de edifícios que formaria o Campus II
da Fiube.
Mário
voltou à Amazônia
em 1978 e permaneceu lá por 9 anos. Ele
construiu um barco chamado Frey Gaspar de
Carvajal, onde reuniu uma biblioteca de
milhares de livros sobre aquela região.
Nesse tempo fez anotações,
tirou centenas de fotos, recebeu políticos
e cientistas, mas, por problemas de saúde,
em 1987 deixou de vez o barco, voltou a Uberaba
e assumiu novamente a Fiube.
Em
1988, conseguiu a autorização
do Ministério da Educação
para transformar a Fiube em Universidade
de Uberaba. A partir daí, foi o reitor
da Uniube. Participou intensamente da vida pública
da cidade, concedendo entrevistas na TV e recebendo
dirigentes políticos. Mário Palmério
morreu em 24 de setembro de 1996.
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